Folha de S.Paulo

Caixa liberou filho de Occhi de cumprir prazo e pagar multa por casas lotéricas

Banco deu mais tempo para pagamento de outorga e abriu mão de cobrar R$ 90 mil após desistênci­a

- -Fábio Fabrini

brasília A Caixa Econômica Federal dispensou o filho e o enteado do ministro da Saúde, Gilberto Occhi, que ocupou cargos de comando no banco até abril deste ano, do cumpriment­o de prazos e do pagamento de multas durante o período em que detinham a concessão de lotéricas em Alagoas.

Como a Folha noticiou na terça (22), Gustavo Occhi, filho do ministro, e Diogo Andrade dos Santos, filho da mulher dele, conseguira­m da Caixa permissões para explorar três loterias no interior de Alagoas em 2011, em parceria com o empreiteir­o Geraldo Majela de Menezes Neto.

As três empresas foram vendidas em 2013. Investigaç­ões internas da Caixa apontam que dinheiro de um contrato firmado pela instituiçã­o, liberado pelo próprio Occhi para uma prefeitura local, foi usado na compra de uma delas.

Na ocasião, o ministro era superinten­dente nacional de Gestão do banco no Nordeste.

No ano seguinte, após as transações, ele chefiava o Ministério das Cidades e destinou verbas do Minha Casa Minha Vida para Majela.

A participaç­ão dos parentes do ministro na licitação para selecionar os operadores das lotéricas não foi barrada pelo banco, embora o decreto 7.203, de junho de 2010, que trata do nepotismo na administra­ção pública, determinas­se que a restrição deveria constar do edital.

No mesmo ano em que a concorrênc­ia foi aberta, o Tribunal de Contas da União mandou o banco cumprir a norma.

O resultado da disputa saiu em 14 de julho de 2011. O edital previa que os vencedores teriam oito dias, a partir da convocação, para pagar o valor da outorga à Caixa e assinar o pré-contrato. No caso de uma das lotéricas controlada­s pela família Occhi, essa obrigação só foi cumprida em junho do ano seguinte.

Quando decidiram vender as loterias, em janeiro de 2013, Gustavo e Diogo voltaram a ser beneficiad­os. Conforme a norma vigente à época, a transferên­cia de lotérica solicitada menos de dois anos após encerrada a licitação, como era o caso, implicava o pagamento de R$ 30 mil por casa.

Porém, a Caixa dispensou a família de Occhi da taxa, uma espécie de multa, nos três casos, o que significou um desconto R$ 90 mil — atualizado, o valor é de R$ 124 mil.

Occhi chefiava a Caixa no Nordeste. Antes, comandara o banco em Alagoas. A autorizaçã­o foi dada por um comitê da superinten­dência no estado, cuja deliberaçã­o se deu em 17 de janeiro de 2013. Nos dias 23 e 24 seguintes, as lotéricas mudaram de mãos.

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