Folha de S.Paulo

TCU ordena despejo, em 2020, de firma suspeita de propina a Temer

- -Fábio Fabrini e Julio Wiziack

brasília O TCU (Tribunal de Contas da União) determinou nesta quarta-feira (23) que o grupo Libra, suspeito de pagar propinas a Michel Temer, deixe o Porto de Santos até 16 de maio de 2020.

A decisão, unânime, foi tomada com base em auditoria que considerou ilegal a prorrogaçã­o, até 2035, de três contratos da empresa.

Os ministros do tribunal deram prazo de 15 dias para que o Ministério dos Transporte­s anule o aditivo contratual que esticou o prazo de exploração dos terminais portuários. Até a data limite, fixada no julgamento, o governo terá de concluir licitação para escolher a empresa que vai receber as áreas.

Não há impediment­o para que Libra participe do processo. Cabe recurso da decisão.

O plenário do TCU seguiu votos apresentad­os pela relatora do caso, Ana Arraes — antecipado pelo Painel— e pelo ministro Walton Alencar.

Os auditores da corte e o Ministério Publico de Contas haviam proposto a saída imediata do grupo, mas os ministros entenderam que isso seria prejudicia­l ao interesse público, pois espaços nobres do porto ficariam vagos. Por isso, a continuida­de de Libra foi autorizada, em caráter precário, por um ano e meio.

Libra está no centro da investigaç­ão, em curso no STF (Supremo Tribunal Federal), que apura se Temer recebeu propinas para beneficiar empresas do setor portuário com a prorrogaçã­o de concessões.

A Polícia Federal suspeita que o grupo e seus sócios fizeram doações eleitorais ao MDB, em 2014, em troca do favorecime­nto.

A Secretaria de Portos da Presidênci­a assinou em setembro de 2015 o termo aditivo com o grupo. Ele unificou três contratos firmados anteriorme­nte, esticando o direito de exploração de áreas do porto até 2035.

A medida foi tomada na gestão do então ministro Edinho Araújo, aliado de Temer, embora o grupo tivesse débitos em discussão com a Codesp (Companhia Docas de São Paulo), referentes às taxas de arrendamen­to de terminais. Atualizado a julho de 2015, eles superam os R$ 2 bilhões.

O presidente e Araújo negam favorecime­nto.

Em 2015, o governo autorizou a prorrogaçã­o com o argumento de que um processo de arbitragem estava sendo aberto para discutir controvérs­ias relacionad­as ao débito.

“Não há interesse público nessa prorrogaçã­o. Há absoluta inexistênc­ia das condições previstas na Lei dos Portos. Parece-me que o decreto foi formulado para Libra”, criticou o ministro do TCU Walton Alencar.

Em nota, o grupo Libra informou ter reiterado ao TCU que a prorrogaçã­o dos contratos “é fruto de licitação regular e que não está inadimplen­te” com a Codesp. Reafirmou também, segundo o comunicado, “que é a empresa que melhor renumera a autoridade portuária por área arrendada”. Fachada do novo auditório da Folha; acima, Vargas Llosa no local, em 2010 CORPO DE ALBERTO DINES É ENTERRADO EM SP Aos pés do caixão, a também jornalista Norma Couri leu carta em homenagem ao marido

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