Cronologia do acordo de paz
A Colômbia faz neste domingo (27) a primeira eleição presidencial depois do acordo que pôs fim a 50 anos de uma devastadora guerra contra as Farc (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia, agora transformadas em Força Alternativa Revolucionária do Comum).
Vota, portanto, em paz, ainda mais que o outro grupo armado (Exército de Libertação Nacional, ELN) decretou uma trégua durante o processo eleitoral.
Claro que é uma paz apenas relativa neste mundo cada vez mais violento e conturbado. Mas, assim mesmo, há elementos que indicam uma
D
Clóvis Rossi situação menos problemática na comparação com anos eleitorais anteriores.
O número de homicídios, por exemplo: foram, em 2017, 24 por 100 mil habitantes, o mais baixo em 42 anos. No Brasil, foram 27,8/100 mil (em 2016), ambos os dados extraídos do Instituto Igarapé, precioso centro de pesquisa sobre violência.
É claro que não foi apenas o fim da guerra que determinou a redução das mortes. Houve vários programas, em geral municipais, que ajudaram a conter a sangria. Mas o fim dos combates tem peso óbvio.
A revista Semana informa, por sua vez que, de acordo com pesquisas, os assuntos de segurança passaram ao segundo lugar nas prioridades, e os votantes têm mais interesse nas propostas eleitorais sobre como combater a corrupção e como melhorar a gestão governamental em temas como saúde, educação e emprego.
Ou, posto de outra forma: a Colômbia de uma guerra que parecia eterna é agora um país com as mesmas inquietações dos países em desenvolvimento.
O paradoxal nesse ambiente menos anormal é o fato de que a eleição põe em risco o processo de paz. O candidato que lidera as pesquisas, Iván Duque, é um afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe, um crítico virulento do acordo de paz.
Há um razoável consenso de que as pesquisas na Colômbia não são confiáveis, mas um dado concreto reforça o favoritismo de Duque: nas primárias de março, a direita recebeu 6 milhões de votos para seus três candidatos, ante apenas 2,8 milhões de Gustavo Petro, o único candidato da esquerda e seu maior rival.
É verdade que Duque vem moderando suas posições, distanciando-se algo de seu mentor e padrinho Uribe.
Ainda assim, vale o que diz Juan Gabriel Tokatlian, do Departamento 25.set.16 Presidente Juan Manuel Santos assina com as Farc histórico acordo de paz
2.out Em plebiscito com resultado apertado, colombianos rejeitam acordo
1º.dez Congresso referenda o novo acordo com concessões ao grupo contrário ao original
13.fev.17 Guerrilheiros se apresentam nas zonas de segurança do governo
14.mar Justiça especial de transição é criada
26.jun ONU diz que Farc concluíram entrega de armas
2.set Farc mantêm sigla e viram partido político
12.mar.18 Partidos contrários ao acordo de paz vencem eleição legislativa de Ciência Política e Estudos Internacionais da Universidade Torcuato Di Tella (Argentina), com vasta experiência no estudo do conflito colombiano:
“Com Duque, o acordo de paz se manterá de certa forma, mas, na prática, haverá a morte nítida dos maiores compromissos que o Estado assumiu ante as Farc e ante a comunidade internacional”.
Já o esquerdista Gustavo Petro certamente manterá o acordo tal como está, mas sua dificuldade virá por outro lado. “Todo o establishment estará contra, o Congresso, as cortes jurídicas, os empresários, os meios de comunicação, muitos prefeitos e governadores, farão de tudo para impedir que as propostas de Petro, boas, más ou regulares, possam ser levadas a cabo”, escreve para o sítio La Silla Vacía Héctor Riveros Serrato, especialista em direito constitucional. Em qualquer caso, a paz recém-conquistada correrá riscos.