Folha de S.Paulo

Pressão política pode levar Parente a deixar a Petrobras

- Igor Gielow

são paulo A imagem de Pedro Parente cabisbaixo e constrangi­do, renunciand­o ainda que pelos alegados 15 dias àquilo que o levou a aceitar dirigir a Petrobras, não poderia ser mais reveladora. Os caminhonei­ros ganharam de novo.

Não há categoria com maior poder disruptivo no país, que acompanhou sua industrial­ização dos anos 1950 em diante com a implantaçã­o de uma vasta rede rodoviária em detrimento de opções mais lógicas, como ferrovias e a navegação de cabotagem.

A esquerda pode prometer parar o Brasil a cada líder seu

Outros setores com problemas de abastecime­nto e transporte

> Soja

> Carne

> Vidro

> Óleos vegetais

> Cereais unidades tiveram a produção de carne bovina, suína e avícola interrompi­da concession­árias de ônibus no município de São Paulo terão que fazer remanejame­ntos nesta quinta-feira (24) para lidar com a falta de combustíve­l

que é impedido no cargo ou vai para a cadeia, para ficar no notório “exército do Stédile” alardeado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas é uma categoria aparenteme­nte descentral­izada, que poderia ser encaixada na direita do espectro político e que está preocupada com o próprio bolso que detém essa capacidade.

Em três dias, desabastec­eu o Rio de Janeiro, obrigou a retirada de 40% dos ônibus das ruas de São Paulo, ameaçou parar o aeroporto de Brasília e paralisou nada menos que 13 unidades da combalida produtora de alimentos BRF.

Foi assim em 1999, quando Fernando Henrique Cardoso teve de negociar também um congelamen­to provisório do preço do diesel e de pedágios para liberar as estradas —na ocasião, ameaçou repetir o recurso às Forças Armadas que acionara na famosa greve dos petroleiro­s de 1995, mas isso está fora de questão em um governo politicame­nte morto como o de Michel Temer.

Dilma Rousseff também experiment­ou o gosto de lidar com os caminhonei­ros em 2015, com componente político mais exacerbado: os líderes do movimento eram favoráveis ao impeachmen­t que já se desenhava.

Há outra questão subjacente à crise. A pressão e a concessão à interferên­cia política na empresa que ele se orgulha de ter tirado do buraco de imagem deixado pela corrupção e má gestão podem levar Parente a sair mais cedo do cargo.

A BRF, empresa que em 2015 perdeu mais de R$ 150 milhões com a greve, está sem presidente-executivo efetivo desde que Parente foi eleito para dirigir seu conselho de administra­ção, no fim de abril, retirando o grupo do empresário Abilio Diniz que controlava o colegiado desde 2013.

Quando assumiu a Petrobras, Parente disse que sua missão se encerraria com o fim do governo Temer. A condição básica era independên­cia total na gestão da petroleira, algo que agora foi submetido aos humores da realidade em um ano eleitoral.

Segundo pessoas ligadas à BRF, a empresa dificilmen­te poderia esperar até o fim do ano para ter um nome confirmado como seu novo presidente-executivo. O próprio fato de ela ter sucumbido por falta de insumos em tão pouco tempo reforça a avaliação de que a gestão precisa ser refeita.

Talvez a greve dos caminhonei­ros e a concessão de Parente sejam a senha para que ele adiante os planos.

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