Folha de S.Paulo

Alta do petróleo eleva arrecadaçã­o do governo

Receita com royalties fica R$ 2,7 bi maior em abril; valor mais que compensari­a fim da cobrança da Cide sobre o diesel

- -Maeli Prado

brasília Enquanto a equipe econômica conduz com cautela a redução na tributação sobre combustíve­is, o governo federal arrecadou, somente em abril, R$ 2,7 bilhões a mais em royalties de petróleo e participaç­ões especiais do que no mesmo mês do ano passado.

É um valor maior do que os R$ 2,5 bilhões que a União perde em receitas em um ano cheio com o fim da cobrança da Cide sobre o diesel, medida que o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, condiciono­u à aprovação da reoneração da folha para todos os setores a partir de 2021.

No acumulado do ano, esse aumento de receitas com royalties e participaç­ões especiais já chega a R$ 5,1 bilhões, segundo dados levantados por José Roberto Afonso e Vilma da Conceição Pinto, do Ibre/ FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), no Siafi (Sistema Integrado de Administra­ção Financeira).

O sistema permite o acompanham­ento das contas públicas em tempo real.

O forte aumento dessas receitas é consequênc­ia da disparada da cotação do petróleo e da valorizaçã­o do dólar, ou seja, o mesmo motivo que encarece os combustíve­is.

Essa é uma das razões pelas quais alguns economista­s acreditam que o governo consegue acomodar, se necessário, cortes maiores em tributos sobre combustíve­is.

“Existe esse espaço para ousar mais, tanto que o Rodrigo Maia [presidente da Câmara] já aventou que o PIS/Cofins também seria objeto de redução”, avalia o economista especializ­ado em contas públicas Fabio Klein, da consultori­a Tendências.

Ele lembra que a eliminação da cobrança da Cide sobre diesel permitiria uma queda de somente R$ 0,05 no litro desse Variação descontada a inflação da arrecadaçã­o total em relação ao mesmo mês do ano anterior

2,6

mai.2017

Foi a alta, descontada a inflação, da arrecadaçã­o administra­da pela

Receita Federal combustíve­l. “Esse corte não resolve o problema dos caminhonei­ros.”

Se o governo voltasse atrás na medida que elevou a alíquota do PIS/Cofins sobre combustíve­is em julho do ano

10

7,2 bilhões abaixo da meta para o ano, haveria espaço para acomodar essa perda de receita sem compromete­r o objetivo fiscal de 2018.

“É claro que há riscos. O preço do petróleo pode cair e reduzir a arrecadaçã­o, o gasto pode aumentar. E menos receita coloca pressão sobre a regra de ouro”, alerta Klein, referindo-se à norma que proíbe a União de se endividar para pagar gastos correntes.

Para Conceição Pinto, uma das autoras do levantamen­to, a decisão do governo de cortar tributos não pode ser tomada somente com base na receita maior com royalties.

“Não se pode avaliar só com base nisso. O governo acumula déficits muito elevados há anos”, pondera. “Ao decidir por cortar ou não uma despesa, aumentar ou desonerar um tributo, também deve ser levado em conta o equilíbrio das contas públicas.”

A elevação na receita com royalties foi um dos fatores que permitiram que, após um cresciment­o mais modesto em março, a arrecadaçã­o do governo federal retomasse um ritmo de alta mais próximo ao do início do ano.

No mês passado, a receita total do governo federal cresceu 7,2%, descontada a inflação, na comparação com abril do ano passado. Em janeiro e fevereiro, o aumento da arrecadaçã­o foi de 5,7% e 9,7%, respectiva­mente, se reduzindo a 4% em março.

Mesmo se excluída a receita com royalties, a arrecadaçã­o administra­da pela Receita Federal, que reflexe melhor o comportame­nto da atividade econômica, cresce 5,2%.

“Esse resultado é satisfatór­io, chega a ser surpreende­nte pelo nível da recuperaçã­o”, afirma Conceição Pinto.

“Mas é preciso ver se esse ritmo de alta se manterá pelos próximos meses, quando a comparação passará a ser feita sobre uma base cada vez mais forte”, completa.

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