Folha de S.Paulo

Prefeitura proíbe o uso de fogos de artifício com barulho em SP

Covas sanciona lei que ainda precisa ser regulament­ada, mas prevê R$ 2 mil de multa; setor de pirotecnia vai à Justiça

- -Paulo Gomes e Lívia Marra

são paulo O prefeito Bruno Covas (PSDB) sancionou nesta quarta-feira (23) lei que proíbe na cidade de São Paulo o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de artifício que produzem ruído.

O objetivo é evitar o malestar causado pelo barulho a crianças, idosos, pessoas com problemas de saúde e animais. Os fogos luminosos continuam permitidos.

A proposta prevê multa de R$ 2.000 para quem descumprir a medida —valor que dobra em caso de reincidênc­ia.

Para que a lei seja passível de fiscalizaç­ão, tendo efeito prático, ela ainda precisa ser regulament­ada —por exemplo, estabelece­ndo limites em decibéis do que será considerad­o ruído. Isso deve ocorrer em até 90 dias. Antes disso, ocorrem eventos nacionais com largo uso de fogos de artifício, como a Copa do Mundo e as festas juninas.

Representa­ntes do mercado de pirotecnia devem entrar na Justiça assim que a lei for publicada no Diário Oficial, nesta quinta (24). O argumento do setor é que a nova lei municipal conflita com um decreto federal de 1942 que permite a utilização de fogos.

Não há consenso no meio jurídico sobre isso. Se houver concorrênc­ia de competênci­a entre União e município, a lei federal deve prevalecer. “Existe uma hierarquia [jurídica] que precisa ser respeitada”, afirma Alberto Yoshida, professor de direito.

Outro entendimen­to é de que um decreto do Executivo poderia ter menos efeito do que uma lei que passou pelo Legislativ­o, ainda que em nível municipal. Além disso, o decreto-lei de 1942 fala em termos gerais sobre o uso de fogos, o que permite lacunas.

A prefeitura ainda vai definir como será a fiscalizaç­ão, mas um dos autores da proposta, Mario Covas Neto (Podemos), afirma que o propósito é de conscienti­zação.

“Trata-se mais de conscienti­zação da população do que uma questão de ter fiscalizaç­ão para multar. Assim como foi o cinto de segurança nos carros, que tem multa alta [para quem não utiliza], mas hoje as pessoas já se conscienti­zaram que salva vidas”, diz.

Além dele, o projeto foi feito pelos vereadores Reginaldo Tripoli (PV) e Abou Anni (PV), que era suplente e deixou a Câmara no ano passado.

Inicialmen­te, o texto pedia o impediment­o da fabricação e comerciali­zação dos artefatos, mas esse trecho foi retirado sob a justificat­iva de que afetaria economicam­ente a cidade e de que não cabe ao município tal proibição.

“Como que eu vou vender se não pode usar?”, diz Eduardo Tsujiyama, presidente da Assobrapi (Associação Brasileira de Pirotecnia). “Isso não tem cabimento.”

Tsujiyama afirma que, como a lei não estabelece parâmetros de ruído, não há como definir o que é permitido ou não. “O que se entende por artefato ruidoso? Uma biribinha é ruidosa”, diz.

“Como vamos fazer o Réveillon na avenida Paulista? Não existem fogos sem ruído. Vamos fazer chuvinha de prata?”

Segundo a Assobrapi, o Brasil é o segundo maior produtor de fogos no mundo, atrás da China, e o impacto nacional seria de milhões de reais.

“São Paulo é referência, vai espalhar [pelo país]”, afirma. O setor emprega cerca de 300 mil trabalhado­res no Brasil. INCÊNDIO DESTRÓI COMÉRCIO NO ABC PAULISTA

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