Professor da rede particular ganha menos e enfrenta mesmos desafios da rede pública
82%
39% são paulo A paralisação de professores da rede privada trouxe à tona uma figura que costuma passar batida em debates de educação no país: o professor da escola privada.
Dois em cada dez professores na educação básica do Brasil trabalham exclusivamente na rede paga de ensino, segundo censo de 2016. Significa quase meio milhão de profissionais. Só agora, com a paralisação, eles viraram assunto.
Quem dá aula nas escolas privadas enfrenta praticamente os mesmos desafios dos docentes das instituições públicas. Os salários não compensam: o docente da rede pública ganha mais que aquele que está na rede privada.
Um estudo publicado em 2017 pelo Inep-MEC mostrou que o salário médio de um professor de escola pública é de R$ 3.335 para 40 horas semanais. Isso dá R$ 736 mais por mês do que recebe um docente da rede privada (R$ 2.599), na mesma jornada.
Quem ganha melhor são os professores de escolas particulares de elite. Em escolas privadas de bairro, menores, que são a imensa maioria no país, o salário é bem menor.
O professor da rede particular, assim como o da pública, também sofre com a indisciplina dos alunos. Segundo estudo com docentes da rede privada do RS, publicado em 2014 no periódico científico de psicologia da USF (Universidade São Francisco), a relação entre professores e alunos é um dos principais estopins para esgotamento mental dos docentes —que leva o nome de síndrome de burnout.
Isso se traduz, diz o estudo, em “falta de limite e de educação” dos alunos. Trata-se de desrespeito, conversa fora de hora, afronta, agressão.
Na prática, a relação professor-aluno pode ser ainda pior na rede privada. Como relatam docentes, a autonomia do professor em relação à indisciplina dos alunos é menor do que na escola pública.
Trocando em miúdos: um professor corre um risco real ao dar uma bronca em um estudante cujos pais pagam pelos estudos.
Nesse cenário, um dos atrativos que levam os docentes para a sala de aula da rede privada são as bolsas de estudos para os filhos. Pois esse é justamente um dos direitos que estão sendo revistos na proposta do sindicato patronal dos estabelecimentos de ensino do estado de São Paulo.
Os professores da rede privada são parte importante de um sistema com quase 50 milhões de alunos, que tem problemas semelhantes em escolas diferentes. É necessário rever as políticas educativas e a gestão das escolas de todo o país de forma conjunta. Podemos aproveitar esse momento para fazer justamente isso.