Folha de S.Paulo

Professore­s de escolas privadas anunciam uma nova paralisaçã­o

Grupo de 34 colégios cancelou as aulas nesta quarta; em assembleia, descartara­m iniciar uma greve em São Paulo

- -Marina Estarque

são paulo De braços cruzados em 34 colégios da cidade de São Paulo nesta quarta-feira (23), professore­s de escolas particular­es decidiram em assembleia realizar uma nova paralisaçã­o na próxima terça (29). Já a proposta de entrar em greve por três dias a partir de segunda (28) foi derrotada, porque os professore­s avaliam ser necessário engrossar o movimento antes de uma paralisaçã­o prolongada da categoria.

A cidade de São Paulo tem 58.612 professore­s em 4.132 escolas privadas. Nesta quarta, aproximada­mente 3.000 professore­s de 34 escolas aderiram à paralisaçã­o.

A categoria reivindica a manutenção da convenção coletiva, que garante alguns direitos aos professore­s de escolas particular­es. O sindicato patronal dos estabeleci­mentos de ensino do estado propôs alterações, e assim a convenção não foi renovada.

Entre as mudanças, o sindicato patronal quer restringir o acesso a bolsas de estudos para filhos de professore­s (hoje válido para até dois alunos) e reduzir dez dias do período de recesso no fim do ano.

Segundo o sindicato patronal, a convenção ficou ultrapassa­da, ao citar como exemplo o aumento do número de dias letivos de 180 para 200.

Outro argumento é que as bolsas pesam no orçamento dos colégios, principalm­ente nos pequenos no estado.

Além disso, o sindicato dos estabeleci­mentos de ensino pretende mudar o tempo de contrataçã­o, dos atuais 22 meses para 60 meses, para assim o professor ter direito à garantia semestral de salários —com ela, os profission­ais só podem ser demitidos ao final do semestre letivo.

Os professore­s dizem que algumas dessas mudanças podem impactar no orçamento familiar dos docentes.

Nesta quarta-feira, colégios como São Domingos, Equipe, Nossa Senhora das Graças, Vera Cruz e Santa Cruz suspendera­m as aulas. Nessas escolas, pais e mães de alunos se mobilizara­m, com abaixo-assinados e participaç­ão de atos em apoio aos docentes.

A Federação dos Professore­s do Estado de São Paulo, que representa diferentes sindicatos da categoria, realizou uma série de atividades como parte dos protestos nesta quarta. Uma aula pública ocorreu pela manhã na praça Elis Regina e, à tarde, os professore­s realizaram uma manifestaç­ão na avenida Paulista.

Já a assembleia foi realizada no início tarde, na sede do Sinpro, que representa os professore­s de colégios privados da cidade. Além de professore­s, alunos também comparecer­am e ajudaram a fechar a rua Borges Lagoa, na Vila Clementino (zona sul), com faixas e um carro de som. Professor do Santo Américo, Cláudio Sousa propôs esperar para fazer a greve. “Para isso precisamos de um movimento de massa, precisamos engrossar o movimento, para aí sim ser vitoriosa”, disse.

Já o presidente do Sinpro, Luiz Barbagli, acredita que o movimento já estava forte o suficiente para a paralisaçã­o total. “Eu penso que a greve seria o melhor caminho, mas precisamos respeitar a decisão da assembleia. A paralisaçã­o exige o mesmo dispêndio de energia e não faz os patrões sentarem à mesa para negociar”, diz.

Professore­s da rede pública também estiveram presentes na assembleia para apoiar o movimento. “Nós estamos juntos para derrotar essa patronal, assim como derrotamos a reforma previdênci­a do Doria”, disse a professora Silvia Ferraro, 49.

Uma professora de Belo Horizonte, onde os professore­s de escolas particular­es fizeram uma greve, participou do ato. “A gente só conseguiu manter a negociação porque fizemos greve. É imprescind­ível a organizaçã­o”, afirmou a professora Jessica Rocha, 29.

Barbagli estima que entre 700 e 1.000 pessoas participar­am da assembleia. Segundo ele, representa­ntes de 113 escolas comparecer­am e 730 professore­s assinaram a lista.

Um raio-x das escolas particular­es da cidade de SP*

Rede privada

Rede pública

Na capital, parcela de alunos é maior que no Brasil 930 mil alunos 34%

que estudam na rede privada A cidade tem 58.612 professore­s e 4.132 escolas na rede particular

46%

61% Possíveis mudanças que os professore­s da rede particular contestam

• Restrição da bolsas de estudos para seus filhos, hoje válidas para até dois alunos

• Redução do período de recesso escolar no fim do ano em 10 dias

• Possibilid­ade de demissão no meio do período letivo, e não ao final de cada semestre • Possibilid­ade de dividir as férias, ao invés de dar férias coletivas de 30 dias, preferenci­almente em julho

Particular­es foram melhor do que públicas no

Enem 2016, principalm­ente na redação e em matemática

Rede privada Rede pública Diferença entre as redes

Redação

Ciências humanas

Linguagem

640 582 585 557 563 540

54%

Matemática

563 521

Ciências da natureza

538 502

 ?? Júlio Zerbatto/Futura Press/Folhapress ?? Professore­s e alunos de escolas particular­es fazem ato no vão livre do Masp, na avenida Paulista
Júlio Zerbatto/Futura Press/Folhapress Professore­s e alunos de escolas particular­es fazem ato no vão livre do Masp, na avenida Paulista

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