Folha de S.Paulo

Crime invisível Mundo virtual dificulta investigaç­ões e facilita aliciament­o de jovens

Polícias Federal e Civil conduzem megaoperaç­ões para desbaratar quadrilhas em 24 estados do Brasil

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são paulo As ofensivas da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança Pública precisam vencer um obstáculo cada vez mais desafiador na luta contra a exploração sexual de menores: a internet.

A preferênci­a hoje é por agenciamen­tos virtuais. “Com as mídias sociais, também vieram as facilidade­s para quem quer explorar essa atividade ilícita”, diz Yuri Giuseppe Castiglion­e, promotor da Infância e Juventude que trabalhou no Grupo de Enfrentame­nto ao Tráfico de Pessoas, Violência, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescent­es do Ministério Público de São Paulo.

“As mídias têm sido usadas não apenas para aliciar crianças e adolescent­es como também para que elas cheguem aos interessad­os. Há comunidade­s [online] criadas para essa finalidade”, diz Castiglion­e.

“A tecnologia está posta, o criminoso se utiliza dessas ferramenta­s disponívei­s para dar maior alcance às suas ações”, afirma Alessandro Barreto, coordenado­r do laboratóri­o de inteligênc­ia cibernétic­a da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

“Se migrou das ruas para a internet? Não há dados que afirmam isso. Mas o momento que vivemos é de virtualiza­ção do crime”, diz.

A secretaria monitorou, durante quatro meses, suspeitos de disseminar conteúdo pornográfi­co infantil na web, no que está sendo considerad­a a maior ação do tipo no mundo.

A Operação Luz na Infância 2 deu base para a Polícia Civil de 24 estados e do Distrito Federal cumprir 579 mandados de busca e apreensão na quinta passada (17), o que resultou em 251 prisões em flagrante.

No final de abril, a PF já havia realizado uma ofensiva em menor escala, mas que chamou a atenção pelo nível de barbárie envolvido.

Em sete estados (São Paulo, Minas, Rio, Goiás, Pernambuco, Maranhão e Acre), a operação Undergroun­d expediu dez mandados de prisão contra pessoas que guardavam filmes nos quais havia abuso sexual de bebês e de crianças com até 11 anos.

Segundo Otavio Margonari Russo, delegado da PF que coordenou a ação, parte dos abusadores era do convívio da família da vítima ou pertencia a ela.

Ele conta de uma menina que engravidou e permaneceu sendo estuprada e filmada continuame­nte. Os vídeos eram vendidos ou trocados em fóruns da deep web —ou “internet profunda”, rede de sites de acesso restrito e que é muitas vezes o meio para o cometiment­o de crimes— com a participaç­ão de homens de todas as classes sociais, tanto brasileiro­s quanto estrangeir­os.

“Sob a crença de estarem no anonimato, eles agiam livremente, de acordo com suas vontades”, diz Russo. E afirma que aqueles que são presos por esse tipo de crime, em geral, expressam culpa e arrependim­ento. “Um deles chegou a me agradecer por ter sido preso.”

Para Alessandro Barreto, o que as inteligênc­ias dos estados mostraram é que “que essas instituiçõ­es dão um passo importante para a virtualiza­ção também da atividade policial, no sentido de reprimir e prevenir a exploração sexual no ambiente cibernétic­o”.

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