Bom, mas ruim
O mundo em 2028 será mais próspero, pacífico, verde, tolerante, abundante e divertido. Passaremos muito mais noites frescas trocando figurinhas da Copa ou das Olimpíadas com estranhos na rua. Beberemos drinques com champagne como quem hoje toma cerveja em lata. Farmacêuticos resolverão o problema da obesidade —falando nisso, imagine as deliciosas drogas legais e ilegais que teremos à disposição... O Brasil receberá bravos imigrantes que deixarão o país mais cosmopolita e interessante. A África será a nova China e mais centenas de milhões de pessoas sairão da miséria. Mas haverá um problema: os intelectuais. Com a produtividade maior, mais gente poderá se dar ao luxo de passar a vida problematizando. “Bombeiros de um mundo sem incêndio”, como diz Youval Harari, esses intelectuais criarão estatísticas e narrativas para nos convencer de que estamos mal, que poderíamos estar melhor, que uma catástrofe se aproxima, que o nosso conforto é fruto de injustiças e por isso devemos nos sentir culpados por ele. A bordo de hotéis com rodas (ônibus autônomos com suítes e serviço de quarto), intelectuais e políticos farão romarias pelo país disseminando ideias de injustiça e opressão. Os problemas que eles inventarem serão pauta de redes sociais e sites. Viveremos em 2028 no mundo mais divertido e próspero até então, mas que pena: não teremos consciência disso.