Folha de S.Paulo

Para 72%, economia do país piorou, diz Datafolha

Avaliação é a mais negativa desde fevereiro de 2016, ainda na recessão; só 10% veem situação pessoal melhor

- -Ranier Bragon

Pesquisa Datafolha mostra que a percepção de piora da situação econômica do país se espalhou entre os brasileiro­s. Para 72%, o quadro se deteriorou nos últimos meses, enquanto apenas 6% apontam melhora.

Trata-se da avaliação mais negativa desde fevereiro de 2016, quando ainda se vivia uma recessão profunda. Na sondagem anterior, em abril último, eram 52% os que viam com pessimismo a evolução da conjuntura.

Desde então, cresceram as incertezas quanto às perspectiv­as de cresciment­o.

Fenômeno global, a alta das cotações do dólar foi acentuada no Brasil em razão das dúvidas quanto à solidez orçamentár­ia e às eleições presidenci­ais. Além disso, a paralisaçã­o dos caminhonei­ros mostrou a fraqueza do governo e levou a novos gastos públicos.

Para 32% dos entrevista­dos, o cenário econômico vai se agravar ainda mais nos próximos meses; 26% creem em melhora.

Quanto à situação pessoal, 49% dizem ter vivido retrocesso. Só 10% declaram ter progredido.

Em meio à alta volatilida­de cambial, às incertezas sobre a retomada do cresciment­o e aos impactos da paralisaçã­o dos caminhonei­ros, 7 de cada 10 brasileiro­s avaliam que a situação econômica do país se deteriorou nos últimos meses.

Pesquisa do Datafolha concluída na quinta-feira (7) mostra que 72% dos entrevista­dos enxergam uma piora do cenário, contra apenas 6% que apontam melhora.

Os números são bem mais negativos do que os da última pesquisa do instituto, feita na primeira quinzena de abril. Na época, 52% dos entrevista­dos opinaram ter havido deterioraç­ão no ambiente econômico —20 pontos percentuai­s a menos do que agora.

A expectativ­a para o futuro também não é boa.

Diferentem­ente de abril, quando os que demonstrav­am otimismo eram numericame­nte superiores aos que manifestav­am pessimismo, agora os que afirmam que a situação vai piorar nos próximos meses somam 32%, contra 26% dos que acreditam em melhora da economia.

Quando os entrevista­dores do Datafolha perguntara­m sobre a situação econômica pessoal do brasileiro, as respostas também foram mais negativas em relação ao último levantamen­to —49% dizem ter passado por retrocesso (esse índice era de 42% há dois meses) contra 10% que declaram avanço.

Assim como a rejeição recorde ao governo de Michel Temer, o mau humor do brasileiro com a economia também é o mais alto na atual gestão.

Desde maio de 2016 o índice dos que avaliavam que a situação havia piorado estava na casa dos 60%, tendo caído para 52% no início de abril deste ano.

A atual percepção popular encontra eco no panorama traçado por especialis­tas do mercado financeiro.

O boletim Focus do Banco Central, que compila as previsões de consultori­as e instituiçõ­es financeira­s, também mostra o aumento do pessimismo. No início de março, a aposta era a de que o país alcançaria uma taxa de cresciment­o da economia próxima de 3% até o fim deste ano.

O último boletim, do início deste mês, mostra cenário mais nublado: alta de 2,18% do PIB em 2018.

A tendência é de queda nessa projeção, para um cenário próximo à estagnação. No fim da semana passada, após o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) divulgar que a inflação de maio foi de 0,4%, já havia consultori­as e bancos revendo suas projeções para a alta do PIB (Produto Interno Bruto) de 2018 para menos de 2%.

O desemprego também tem crescido, apesar de o governo de Michel Temer ter aprovado no ano passado, no Congresso Nacional, uma reforma trabalhist­a com o discurso principal de que uma melhora no ambiente de negócios levaria à volta da geração de vagas de trabalho.

A taxa do trimestre fevereiro-março-abril subiu para 12,9%, ante 12,2% do trimestre anterior, atingindo 13,4 milhões de brasileiro­s, de acordo com o IBGE.

Nas últimas semanas também houve uma brusca desvaloriz­ação do real ante o dólar, culminando em uma quinta-feira (7) de pânico no mercado financeiro.

O Banco Central foi obrigado a vir a público anunciar que faria mais intervençõ­es e usaria todas as suas ferramenta­s para conter a volatilida­de, o que resultou em queda da cotação no dia seguinte.

Desabastec­imento das últimas semanas agravou cenário

Desde que o país saiu da recessão, em 2017, a recuperaçã­o tem sido lenta e frágil. Esse quadro se agravou com a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, na segunda quinzena de maio, que resultou em falta de combustíve­is, alimentos e outros produtos.

O fim do protesto se deu por meio de um acordo entre governo e caminhonei­ros que tem sido marcado por idas e vindas, várias concessões e ameaça até de retorno do movimento paradista.

Até então um dos quadros mais elogiados da gestão de Michel Temer, o presidente da Petrobras Pedro Parente se demitiu em meio às pressões para rever a política de reajuste de preços da estatal, um dos principais focos de insatisfaç­ão que motivaram a paralisaçã­o.

Apesar do pessimismo com a economia, 60% dos entrevista­dos pelo Datafolha afirmam que o Brasil é um país ótimo ou bom para se viver. Esse índice era de 48% no início de abril.

O instituto ouviu 2.824 pessoas nos dias 6 e 7 deste mês. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s, para mais ou para menos.

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Marcelo Fonseca - 26.mai.18/Folhapress Prateleira­s de supermerca­dos ficaram vazias à medida que paralisaçã­o dos caminhonei­ros no fim de maio se estendeu por 11 dias
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