Folha de S.Paulo

‘Sou pastor e amo me pintar’, diz cacique com igreja no litoral

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Ubiratã não esconde: ele tinha medo. E se precisasse abrir mão de suas raízes para adorar a Jesus? “Eu pensava que o Evangelho podia tirar algo da gente: o cântico, a pintura do rosto, as danças.” Mas não é o seu caso, diz. “Pelo contrário, sou pastor e amo me pintar, colocar meu cocar.”

Tentar, até tentaram. “Muitos [pregadores] falaram que para louvar não pode mais isso [mostra as penas no adereço]. Difícil falar que não posso usar penacho na cabeça.”

“Nós não agredimos a cultura. Oferecemos outro ponto de vista”, diz Henrique Terena, presidente do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélico­s Indígenas. “Em todas as culturas, há coisas boas e ruins. Obviamente, as coisas ruins nós não queremos que permaneçam.”

O pastor José de Ribamar, 66, também diz querer somar, e não subtrair. “A gente não força ninguém, mas muitos deles já largaram o cachimbo.”

Sua Congregaçã­o Cristã do Ministério de Guarulhos já doou fogão, vestuário e até piso. “Um deles tinha o desejo de passar vassoura em casa. Deus preparou, fomos lá e fizemos piso na casa do índio.”

Para Cristine Takuá, não existe indígena convertido, e sim “pessoas que foram mortas por dentro. Você se desprende da sua alma”.

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