Folha de S.Paulo

Ambulantes vendem salame, pentes e escova de dentes no metrô do Recife

Vendedores dizem ganhar de R$ 80 a R$ 100 por dia, mas se preocupam com a alta da passagem

- -Joana Suarez

“Olha o pente, lá fora é R$ 4, aqui é R$ 1. Vergonha é andar despentead­o”, fala um, de cabelo arrumado. “Pomada e massageado­r, o ‘mô’ [amor] vai gostar e a massagem é de graça”, diz a moça, arrancando risos. “Desodorant­e, para não ficar fedendo, por apenas R$ 5”, vende mais um. “Bolsinha de moeda para guardar o dinheiro da passagem”, oferece mais outro.

Os ambulantes, figuras onipresent­es no metrô do Recife, tornaram os vagões uma feira livre, vendendo até salame e empanado de frango congelado.

Nas estações mais movimentad­as é possível contar em um vagão dez vendedores, homens e mulheres, passando em fila entre os passageiro­s e falando ao mesmo tempo. Alguns acreditam que são mais de 300, outros arriscam dizer 1.000. “É muita gente desemprega­da”, diz Matheus Rafael da Silva, 23, que vende desodorant­e nos vagões.

Ambulantes como ele estão entre alguns dos mais preocupado­s com o reajuste de 87,5% no bilhete, que passou de R$ 1,60 para R$ 3, em maio.

Raul Gomes vende lâmina de barbear, escova de dente e já fez as contas de quanto vai gastar a mais por mês. “Será uns R$ 90, porque venho de dia e de noite eu volto para vender doce”. Pior: ele acha que agora o movimento no metrô vai cair com a nova tarifa.

Alguns ambulantes contam que ganham de R$ 80 a R$ 100 por dia. “A gente fica suado, mas compensa. Agora, o povo vai pagar R$ 3 e não vai ter o troco pra pipoca”, diz o ambulante Igor José da Silva, 23.

O técnico em eletrônica Josuel Luiz da Silva, 25, acha que os trens são tão ruins que não valem nem os R$ 1,60.

Para justificar a alta, o superinten­dente do metrô de Recife, Leonardo Villar Beltrão, afirma que apenas 44% dos 30 mil usuários/dia pagam passagem. O restante usa o sistema de integração e pagam só o bilhete no ônibus, de R$ 3,20.

Segundo ele, o custeio do metrô em 2017 foi de R$ 104 milhões, mas a arrecadaçã­o era de R$ 62 milhões. O governo federal cortou os recursos, diz Beltrão, em 43% neste ano.

“Não tem como reivindica­r melhorias arrecadand­o quase nada”, diz ele, que admite que o metrô de Recife é um dos mais degradados do país, inclusive com trens parados por falta de peça. O sistema tem três linhas que atendem os bairros mais carentes.

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Bernardo Danta/ Folhapress Ambulante no metrô de Recife vende barbeador, pente e escova de dente

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