Folha de S.Paulo

Júpiter tem relâmpagos como a Terra

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Novos dados colhidos pela sonda Juno mostram que os relâmpagos na atmosfera de Júpiter são surpreende­ntemente parecidos com os da Terra.

A primeira vez que raios foram vistos no maior planeta do Sistema Solar foi por ocasião da visita da espaçonave Voyager 1, em 1979, quase 40 anos atrás. Ela encontrou duas evidências fortes dos relâmpagos.

Fotografia­s do lado escuro do planeta foram a mais óbvia. Com uma exposição de mais de três minutos, elas registrara­m vários clarões na atmosfera que eram consistent­es com raios.

Já a mais interessan­te foi a detecção de rápidos pulsos de rádio, na frequência dos quilohertz, emitidos quando a brutal corrente elétrica de um relâmpago flui pela atmosfera. Acontece cá, acontece lá. Mas esperava-se detectar esses pulsos também em frequência­s mais altas (megahertz ou gigahertz), o que não aconteceu. Ficou a impressão de que talvez os raios de Júpiter fossem diferentes dos nossos.

Agora, a Juno coloca tudo em seu devido lugar. Com equipament­os mais sensíveis, e voando mais perto do gigante gasoso que qualquer outra sonda já voou, ela detectou um número dez vezes maior de eventos, e nas frequência­s esperadas. Ou seja, os relâmpagos jovianos são bem parecidos com os terrestres.

Os dados da Juno sugerem que Júpiter apresenta cerca de quatro raios por segundo, em média. Na Terra, o número é cinco.

O que varia entre os dois planetas é a localizaçã­o dos raios. Na Terra os relâmpagos são bem mais comuns na faixa tropical e em Júpiter eles se concentram todos nas latitudes mais altas, próximas aos polos.

Segundo os modelos, isso ocorre porque Júpiter tem mais convecção —processo de circulação de massas de ar por conta de diferenças de temperatur­a— nos polos do que no Equador.

Os resultados foram publicados em dois artigos correlatos nas revistas Nature e Nature Astronomy, que vieram acompanhad­os de uma boa notícia para a equipe da sonda: a Nasa estendeu sua missão inicial até julho de 2021.

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