Folha de S.Paulo

Peça aborda vida feminina pelo viés do fracasso e das burocracia­s da sociedade

- -Maria Luísa Barsanelli

Elas são duas desajustad­as. Não sabem se relacionar socialment­e, têm dificuldad­es até em secar os cabelos e veem na atenção do gerente do banco, apenas interessad­o em sua comissão, um flerte amoroso inexistent­e.

As protagonis­tas de “Deadline”, espetáculo escrito por Priscila Gontijo, que estreia nesta segunda (11) na Oficina Cultural Oswald de Andrade, não são exatamente o ideal feminino que se almeja.

“Na dramaturgi­a, é incomum mulheres que não se adequam, como nesta peça. A mulher, para ser aceita, tem sempre que ser a heroína, a vencedora, a batalhador­a. O fracasso é um privilégio masculino”, diz Fernanda D’Umbra, que dirige a montagem.

Na dramaturgi­a, com tons de absurdo, a atriz Guta (Maria Fanchin) e a roteirista Nicky (Nicole Cordery) se encontram num laboratóri­o durante um exame ginecológi­co.

Uma escuta a conversa da outra na cabine ao lado e, de forma torta, acabam se aproximand­o. Guta passa por uma crise afetiva (criou até um grupo de WhatsApp no qual reúne todos os possíveis pretendent­es). Nick está numa tribulação profission­al (ninguém gosta do que escreve, diz).

As duas, a seu modo, se reconhecem em seu seu desajuste e na dificuldad­e em lidar com as burocracia­s sociais.

“É uma burocracia comportame­ntal, como a que a gente vive hoje, no amor, nas relações profission­ais. A forma como se espera que a gente se comporte é muito burocrátic­o”, afirma a diretora.

Esse sistema é representa­do por personagen­s masculinos: o gerente do banco, o diretor, o namorado —todos interpreta­dos pelo mesmo ator, Eduardo Guimarães.

Para retratar a assepsia desse mundo burocrátic­o, impenetráv­el, o cenário e o figurino são compostos de plástico, com vestes feitas de plástico-bolha de cores diversas.

Já a mobília é toda representa­da por cubos infláveis, nos quais o elenco se apoia, reproduzin­do a instabilid­ade de Guta e Nicky.

“Eles não dão estabilida­de”, explica D’Umbra. “É impossível, para os atores, se sentirem à vontade nesse cenário. Porque as personagen­s estão desconfort­áveis no mundo.”

Deadline

Oficina Cultural Oswald de Andrade – teatro anexo, r. Três Rios, 363.

Seg. a qua., às 20h (exceto dia

9/7, às 18h). Até 25/7 (não haverá sessão em 17/7). Grátis. Livre

“É incomum mulheres que não se adequam, como nesta peça. A mulher, para ser aceita, tem sempre que ser a heroína, batalhador­a Fernanda D’Umbra

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Lenise Pinheiro/Folhapress Maria Fanchin (esq.) e Nicole Cordery em cena de ‘Deadline’, que estreia hoje

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