Folha de S.Paulo

Público mais velho também quer games, aplicativo­s e repúblicas

Empresas miram quem tem mais de 60 anos com produtos que vão muito além da área da saúde

- -Fernanda Perrin Colaborou Anna Rangel

O envelhecim­ento da população brasileira impulsiona a demanda por produtos e serviços voltados para os mais velhos que vão muito além da área da saúde.

Um exemplo é a ISGame, escola de games com cursos para crianças, jovens e pessoas com mais de 50 anos.

A metodologi­a aplicada é a mesma para todas as faixas etárias: algumas noções básicas são apresentad­as, e o aluno vai aprendendo com os colegas a criar seu próprio game.

Fábio Ota, fundador da empresa, diz que o curso ajuda a promover a saúde mental, melhorando a capacidade cognitiva, a memória, a concentraç­ão e dando mais qualidade de vida aos idosos.

“Se a gente falasse que é um curso de games para pessoas mais velhas, não viria ninguém. Acho que teriam preconceit­o e achariam que seria chato”, afirma Ota.

Ao final de cada módulo, que dura cinco meses, os alunos de todas as turmas se encontram e jogam os games criados uns pelos outros.

“Quero promover uma integração entre as gerações”, afirma o empresário.

Há turmas em que os alunos pagam R$ 95 por mês e outras em que as aulas são gratuitas para o estudante, uma vez que patrocinad­ores arcam com todas as despesas.

Já o Morar.com.vc começou com investimen­to de R$ 10 mil e o diferencia­l de conectar pessoas que querem dividir apartament­o para “envelhecer cercadas de amigos e de uma rede de apoio”, segundo a sócia Veronique Forat.

A plataforma virtual, que já tem 1.100 inscritos, aceita pessoas de todas as idades, mas pelo menos a metade dos usuários é composta por clientes com mais de 45 anos.

“Muita gente diz que se sente sozinha ou quer ter uma vida social mais ativa, e isso é fundamenta­l para a longevidad­e”, afirma Veronique. Sem investir em marketing, a empresa diz receber ao menos 50 novas inscrições por mês.

Já na EuVô o foco é a mobilidade para a terceira idade. A startup de São Carlos (a 235 quilômetro­s de São Paulo) investiu até agora R$ 100 mil para desenvolve­r um aplicativo cuja proposta é ser uma espécie de Uber para idosos.

Vitoria Abdelnur, uma das fundadoras da empresa, explica que a ferramenta terá duas interfaces. De acordo com ela, as letras da plataforma serão maiores e haverá um áudio explicando como usar, caso o usuário tenha dificuldad­e de entender as instruções.

O aplicativo deve ser lançado no segundo semestre, mas a empresa já funciona desde o ano passado.

Vitoria e o irmão, Gabriel, desenvolve­ram um treinament­o para motoristas pensando no público-alvo, com aulas de gerontolog­ia, primeiros socorros e psicologia.

Há dois tipos de serviço: o leva e traz, com ou sem espera, e o de acompanham­ento, em que o motorista vai junto com o cliente na consulta ou às compras no supermerca­do.

A ISGame e a EuVô foram selecionad­as no mês passado para passar por um programa de aceleração, após participaç­ão na Chamada de Negócios da Longevidad­e, que mapeou 141 empresas com foco nesse segmento no Brasil.

A iniciativa foi de três grandes organizaçõ­es que apostam no potencial dos negócios para mais velhos: a americana Aging2.0, a consultori­a de marketing Hype60+ e a acelerador­a Ativen.

“Essa questão toda vem para mostrar que a velhice pode ser mais bacana e mais bem vivida quando você deixa de pensar nela como algo horroroso. Aí começam a surgir necessidad­es óbvias de produtos e serviços, porque são todos consumidor­es”, afirma Sérgio Estrada, embaixador no Brasil da Aging2.0.

Parceira do Google for Entreprene­urs, a Aging2.0 quer expandir a temática de saúde e incluir também bem-estar e estilo de vida.

A acelerador­a informa que pretende investir nas áreas de mobilidade, vida social, rotina e até no período chamado de “end of life” (“fim da vida”).

“É um mercado ainda novo, falta muita coisa. Minha sugestão é passar um tempo com pessoas mais velhas para entendê-las. Não adianta criar um negócio na sala da faculdade ou dentro do seu escritório”, diz Layla Vallias, co-fundadora da Hype60+, consultori­a de marketing especializ­ada nessa faixa etária.

De acordo com Layla, o empreended­or que quiser entrar nesse mercado deve estudar bem a rotina e a linguagem do usuário e simplifica­r ao máximo o seu produto.

Para ela, também é preciso ter em mente que esse é um consumidor muito experiente, que já viu de tudo e, portanto, costuma ser mais cético e pragmático.

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Adriano Vizoni/Folhapress Marta Monteiro (à esq.), 64, e Veronique Forat, 61, fundadoras da Morar.com.vc, em apartament­o em SP
 ?? Marlene Bergamo/Folhapress ?? Alunos do curso de games da ISGame, em SP
Marlene Bergamo/Folhapress Alunos do curso de games da ISGame, em SP

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