Folha de S.Paulo

Agora é conter a euforia

- Juca Kfouri É jornalista e escreveu “Confesso que perdi”

O décimo jogo entre Brasil e Áustria, oitavo amistoso, tinha de ser como se viu: os brasileiro­s cautelosos às vésperas de estrear na Copa do Mundo e os austríacos a pleno vapor, fora do torneio na Rússia e dispostos a buscar sua primeira vitória contra o time amarelo.

Até então, eram seis vitórias nacionais, duas nas Copas de 1958 e 1978, e três empates.

Depois de vencer a Alemanha, o que de melhor poderiam esperar os anfitriões, no quinto jogo entre ambos em Viena, com apenas um empate até então? Ganhar dos pentacampe­ões e dançar uma valsa.

Durante o jogo, no entanto, não estiveram para valsar.

Assim como os Estados Unidos complicara­m a vida da França no empate de 1 a 1 no sábado (9) e a Tunísia vendeu caro e no fim a derrota por 1 a 0 para outra das favoritas, a Espanha, a Áustria jogou pesado.

Matava jogadas no meio de campo, não fazia nenhuma cerimônia contra os obviamente cautelosos visitantes. Que mesmo assim jogaram melhor, ao não temer chutar de fora da área até abrir o placar com Gabriel Jesus, em belo gol para diminuir a sombra de Roberto Firmino, numa bola desviada exatamente de tiro longo de Marcelo.

Antes, tanto Casemiro quanto Philippe Coutinho haviam feito o mesmo, assim como a Paulinho tinha faltado a habilidade de Gabriel Jesus para vencer o goleiro rival.

A problemáti­ca saída de bola pela direita com Danilo manifestad­a contra a Croácia parecia bem resolvida, com a aproximaçã­o permanente de alguém para auxiliá-lo.

E se os austríacos queriam dançar, no segundo tempo, dançaram.

Com elegância e arte, Neymar e companhia convidaram os anfitriões a valsar e fizeram mais dois gols, com Philippe Coutinho e com o próprio camisa 10, num gol de pura picardia, o drible dentro da área, como sobre um lenço, até a conclusão entre as pernas do goleiro.

Antes de ser campeão mundial pelo Corinthian­s, em 2012, o time de Tite foi derrotado pelos reservas do São Paulo por 3 a 1, no que pareceu o aviso de que o Alvinegro não teria a menor chance contra o milionário Chelsea. Até hoje o treinador agradece aquela derrota, porque pôde trabalhar a concentraç­ão de seus jogadores para os dois jogos que viriam, principalm­ente o primeiro, sempre contra um time mais fraco. Muito bem.

Trata-se agora de não permitir que o 3 a 0 sobre a Áustria sirva para deixar todos eufóricos.

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