Folha de S.Paulo

Entidades do esporte se unem contra corte de R$ 300 milhões

Novo sistema unificado de segurança pública tira verbas do Ministério do Esporte e vira alvo de críticas

- -Marcelo Laguna

De forma inédita, diversas entidades ligadas ao esporte brasileiro, como confederaç­ões esportivas, de clubes e ONGs, estão atuando em conjunto contra a medida provisória assinada pelo presidente Michel Temer na última segunda-feira (11), que pretende unificar o sistema de segurança do país.

A medida, que irá transferir recursos das loterias para a área de segurança, afeta diretament­e o Ministério do Esporte, que tem nas verbas das loterias sua maior fonte de recursos.

Cálculos iniciais apontam que pelo menos R$ 300 milhões deixarão de ser aplicados em programas do Ministério, voltados especialme­nte para os esportes de base.

“Quando você acredita que nada mais pode piorar no esporte, eis que aprovam uma medida destas. Claro que ninguém é contra o investimen­to na segurança pública, mas não consultara­m os setores do esporte envolvidos. Trata-se de um enorme equívoco”, critica o velejador Lars Grael, duas vezes medalhista olímpico e superinten­dente de relações institucio­nais do CBC (Comitê Brasileiro de Clubes).

O CBC foi justamente uma das entidades mais afetadas com a redistribu­ição das verbas das loterias que será feita caso a medida provisória 841, que cria o Fundo Nacional de Segurança Pública, seja aprovada no Congresso.

Com a medida, serão retiradas verbas destinadas ao CBC, Fenaclubes, ONGs e até esporte militar. Também serão afetadas a CBDE (Confederaç­ão Brasileira de Desporto Escolar) e a CBDU (Confederaç­ão Brasileira de Desporto Universitá­rio).

A medida atingirá ainda o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e CPB (Comitê Paralímpic­o Brasileiro), com reduções de pelo menos R$ 10 milhões anuais para cada um.

“Estamos falando de um corte de pelo menos R$ 300 milhões no orçamento do Ministério do Esporte”, diz Louise Bezerra, diretora executiva da ONG Atletas Pelo Brasil.

Nesta quarta-feira (13), representa­ntes do setor do esporte estarão em Brasília, durante audiência pública na Comissão de Esportes, presidida pelo deputado Alexandre Valle (PR-RJ). A ideia é fazer pressão nos deputados, para que a medida não seja aprovada.

“Acho possível reverter esta situação. Quando o governo sentir o tamanho da impopulari­dade da medida, vai sentar para negociar”, diz Lars Grael.

Maior atingido com a medida provisória, o Ministério do Esporte emitiu uma nota no final da noite desta terça-feira.

“O Ministério do Esporte tem plena consciênci­a da crise na segurança pública que tem afetado a vida dos brasileiro­s. Mas nunca em detrimento do esporte. A Medida Provisória editada na última segunda-feira coloca o esporte para escanteio. Vamos lutar, junto ao governo, para modificar a MP durante sua tramitação no Congresso Nacional e assegurar a manutenção do financiame­nto do sistema desportivo brasileiro”, disse o ministro Leandro Cruz no comunicado.

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