Folha de S.Paulo

Quase dois anos após biografia, Rita Lee lança livro de fotos

Cantora autografa ‘favoRita’, com retrospect­iva da carreira em imagens, nesta quarta (13), na Livraria Cultura

- -Thales de Menezes

Quase dois anos depois de “Rita Lee – Uma Autobiogra­fia”, a cantora lança um livro de fotos que pode funcionar como um complement­o de imagens àquele volume. Não reúne apenas fotografia­s. Há espaço para alguns textos da autora, que vão de uma pensata feminista a um atraente capítulo sobre seus problemas com a censura.

“favoRita” é grande, em formato celebrado como “livro de mesa”. Apesar do tamanho, não é completo. A proposta parece seguir uma curadoria afetiva. Algumas fases da carreira, como esta ou aquela turnê, têm vasto material. Mas o conteúdo não contempla a vida de Rita de ponta a ponta. De Mutantes, nada.

Há um predomínio de imagens das performanc­es no palco ou diante das câmeras. “Numa época, aprendi com David Bowie a me esconder atrás da teatralida­de de uma personagem bizarra, o que me dava mais segurança para subir ao palco”, diz Rita à Folha. Algumas fotos da primeira metade dos anos 1970 realmente transmitem essa influência do glitter de Bowie.

“Quando vejo fotos antigas, como as do livro, me imagino como a figura do louco, do tarô, dançando e cantando à beira do abismo. Acho até que fiz bem esse papel.”

O livro traz também ensaios feitos só para o projeto, com fotos de Guilherme Samora. Em um deles, ela recria a capa do álbum “Rita Lee” (1980), também conhecido como “Lança Perfume”, usando a mesma roupa da foto original.

“Ainda tenho muitos figurinos de diversas fases que vivi, estão todos guardados no só- tão. Quem sabe um dia abro as portas do meu baú?”

O primeiro dos poucos textos do livro, “Jabuti”, fala de mulheres que ela conheceu na infância e na juventude, um time peculiar de vizinhas e tias.

Ela acredita que as mulheres dos anos 1950 tinham tanto “fogo na bacorinha” quanto as de hoje, “só que eram mais misteriosa­s”. “Naquela época, empoderame­nto era cursar o Normal ou estudar datilograf­ia e taquigrafi­a para ser secretária. Eu liguei o foda-se e me meti sem pudores no mundinho masculino do rock.”

No capítulo mais denso de “favoRita”, chamado “Dossiê Rita Perigosa”, há um relato caudaloso de seus problemas com a censura no regime militar. Inclui letras de músicas censuradas e reproduçõe­s de documentos oficiais sobre determinaç­ões dos censores em relação às canções.

Com esse currículo de “investigad­a”, Rita diz que não sabe se deve rir ou chorar diante das manifestaç­ões pela volta dos militares ao poder.

Em outro trecho do livro, escreve que seu pecado capital sempre foi a preguiça. Aos 70 anos, Rita afirma ter um dia a dia de “velhinha fofa”. “Continuo escrevendo o que vem à cabeça. Pinto uns quadrinhos, leio pra caramba, cuido da minha hortinha e de meus bichinhos, converso com minha neta, brinco com meu neto, namoro e componho com Roberto e, quando me sobra tempo, arrumo gavetas e armários.”

Mas ela anuncia estar envolvida “com um pessoal bacana de cinema”, num projeto que pode levá-la às telas.

favoRita

Autora: Rita Lee. Ed. Globo Livros. R$ 79,90 (250 págs.). Lançamento: qua. (13), às 16h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista, 2.073; senhas para autógrafos limitadas às primeiras 300 pessoas que comprarem o livro, a partir das 9h

“Empoderame­nto era cursar o Normal ou estudar datilograf­ia para ser secretária. Eu liguei o foda-se e me meti sem pudores no mundinho masculino do rock Rita Lee cantora

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Rita e o ratinho Alex, que antes de morar com a artista vivia no Instituto Biológico

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