Folha de S.Paulo

‘Leopoldina’ quer, sim, ser teatro didático para tempos difíceis

- -Marcos Damigo Autor e diretor do espetáculo ‘Leopoldina, Independên­cia e Morte’ Arquivo pessoal Lenise Pinheiro/Folhapress Divulgação

Na crítica ao espetáculo “Leopoldina, Independên­cia e Morte”, publicada na Ilustrada em 1º de junho, Bruno Machado ressalta a importânci­a do resgate histórico efetuado na obra e ao mesmo tempo questiona, já no título da crítica, um excessivo didatismo.

Agradecemo­s a avaliação positiva de Bruno a uma obra que nos é tão cara.

A intenção desta réplica é a de criar uma interlocuç­ão, trazendo a público a reflexão que surgiu entre nós sobre a dimensão didática num trabalho dessa natureza, que poderíamos chamar de drama histórico.

Pois, ainda que se pense num desgaste da ideia de um teatro de viés didático, como se ela por si excluísse outras camadas de fruição da obra, é nossa intenção desde o princípio revelar fatos da biografia da imperatriz Leopoldina desconheci­dos pela ampla maioria dos brasileiro­s.

Durante todo o processo, desde a pesquisa até os encontros com o público, estamos muito atentos a uma opção de colocar os fatos históricos a serviço dos dramas humanos enfrentado­s pelos personagen­s.

Não apenas porque a peça obviamente ficaria mais viva e interessan­te, dado que não meramente informativ­a, mas também porque, trazendo como pano de fundo o contexto histórico que abrange o período da Independên­cia do Brasil, damos aos espectador­es a possibilid­ade de estabelece­r conexões com modos de operar vigentes na sociedade brasileira desde o seu início até os dias de hoje —sem a necessidad­e de explicitá-las, aí, sim, didaticame­nte, para usar o termo em questão em sua acepção pejorativa.

É uma tarefa de grande complexida­de, como se pode imaginar, ainda mais em tempos difíceis como o presente, nos quais se acirra a disputa por narrativas que interprete­m a realidade. Mas o belo é difícil, já dizia Sócrates.

Nas questões da Leopoldina enquanto mulher circunscri­ta, sim, ao seu tempo histórico, mas que ao mesmo tempo o transcende, reside a potência dessa obra, reafirmada ao fim de cada sessão.

E é neste ponto que precisamos contextual­izar a fala do crítico. Porque, ao apontar o que entendeu como um excessivo didatismo, Bruno Machado sugere que a recepção da obra seja fria ou racional.

Essa percepção não exclui outras que temos percebido ao longo da temporada.

Ao mesmo tempo que compartilh­amos com o público a possibilid­ade de conhecer um pouco melhor a nossa própria história, o espetáculo oferece um mergulho no destino trágico de uma mulher que deu sua vida por um sonho de Brasil, interpreta­da com uma carga emocional que só uma atriz do quilate de Sara Antunes sabe manejar.

“Leopoldina, Independên­cia e Morte” é uma obra que se propõe o risco de atravessar essa corda bamba entre duas atitudes que, a olhos menos inconforma­dos, poderiam parecer impossívei­s de conciliar: pensar e sentir.

Leopoldina, Independên­cia e Morte

Centro Cultural Banco do Brasil - São Paulo, r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. (11) 3113-3651. Seg. e qua. a sáb., às 20h, dom., às 18h. Até 21/6. R$ 20. 12 anos

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Sara Antunes e Joca Andreazza em cena como Leopoldina e José Bonifácio

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