Folha de S.Paulo

Respeito à tradição japonesa marca cozinha de sushimen no país

- -Josimar Melo

Hoje não há bairro em São Paulo que não tenha meia dúzia de restaurant­es japoneses —vale do sushi puro à temakeria. Viraram parte da paisagem. Não é de surpreende­r, consideran­do que esta é a maior cidade japonesa fora do Japão.

Mas é um cenário inacreditá­vel para quem comia fora 30, 40 anos atrás. Pizzarias, churrascar­ias, ok. Até esfirras. Mas peixe cru? São várias décadas, mas é pouco, se comparado ao tempo em que os japoneses estão no Brasil —mais de um século.

Onde estava o sushi —e outros pratos típicos— nos primeiros 70 anos?

A rápida invasão da cozinha japonesa se deu de forma inversa à da ocupação dos japoneses. Retraídos, seus núcleos de agregação sempre foram muito fechados. Com pouco entusiasmo por realizar trocas fora de sua comunidade, isolavam-se, enquanto os brasileiro­s tampouco se aproximava­m muito daqueles estranhos costumes e idioma.

Mas nos anos 1980 o bairro da Liberdade começou a atrair a atenção de curiosos por comida. Aos poucos parte da comunidade japonesa expandia o círculo, frequentan­do escolas, trabalhand­o e namorando fora daquele perímetro.

Aumentando áreas de contato, também ficava mais fácil, para jovens universitá­rios como eu, e também para publicitár­ios e outras tribos, se aventurare­m ali para comer.

Era ainda algo temerário, porque os pequenos restaurant­es, no lugar de menu, tinham só pequenas tabuletas penduradas, com ideogramas escritos em vertical, onde supúnhamos que estavam escritos pratos e preços. Mas não adiantava muito perguntar.

E essa era a graça da coisa. Peixe na grelha de carvão era fácil de encarar. Salada fria de ostras com shoyu era um passo além. E sushis e sashimis, a travessia do Rubicão: conquistáv­amos novos paladares.

Destino seguro era o Tanji, que já não existe há duas décadas. Atrás do balcão ficava o sushiman Mitsuo Tanji (morto em 2016, aos 84 anos), com um sorriso expansivo raro entre os fechados compatriot­as.

A curiosa trajetória do sushi em São Paulo —por décadas uma joia escondida numa comunidade fechada— teve um interessan­te corolário. Em alguns países de forte imigração japonesa —como o Peru ou os EUA (costa oeste)— criouse uma cozinha miscigenad­a.

A cozinha nikkei peruana, como o sushi california­no, mistura ingredient­es que a alguns pode agradar, mas estão longe da tradição.

Em São Paulo, a cozinha japonesa não é adaptada; em que pese muitos restaurant­es copiarem a moda “california­na” de “sushi-tudo”, o que marca a melhor cozinha nipônica aqui é o fato de retratar com respeitáve­l fidelidade as tradições dessa bela cozinha.

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