Folha de S.Paulo

Chef premiado faz críticas a uso indiscrimi­nado de novas técnicas

Para Guy Savoy, à frente de um dos principais restaurant­es da França, sistematiz­ação ignora especifici­dades

- -Josimar Melo Ed Alcock/The New York Times

O mundo está caminhando para um modelo de restaurant­e mais simples, de boa comida, mas mais descontraí­do, fora do modelo do grande restaurant­e gastronômi­co que se estabelece­u na França nos últimos 200 anos. É o que muitos pensam hoje.

Mas não é o que pensa o chef Guy Savoy, um dos mais importante­s da França, e que vem fazendo o caminho inverso —e com muito orgulho.

O restaurant­e que recebe seu nome, em Paris, é dos mais premiados, com cotação máxima em todos os guias, e uma unanimidad­e da crítica. Sempre foi um templo gastronômi­co. Mas nos últimos anos, vem aprofundan­do a solenidade em torno dele.

Enquanto chefs de seu gabarito espalham a marca em dezenas de casas pelo mundo, ele finca pé na França —à exceção de Las Vegas, onde abriu uma casa no hotel Caesars Palace (onde falou à Folha). Por que abriu ali? “Não fui eu, foram eles... tanto insistiram, aceitaram todo tipo de condição, que não teve jeito...”

Já em Paris, seu restaurant­e, aberto em 1980 e ocupando novo endereço em 1987, mudou-se em 2015 para a majestosa Casa da Moeda, palácio de 1775 à beira do Sena —parte do qual virou museu, galeria e centro de criação, impulsiona­dos por artistas e grifes.

O local é suntuoso, unindo arquitetur­a do passado, decoração moderna e obras de arte contemporâ­nea.

O chef, de 64 anos, tem mais três casas, mais baratas, em Paris —Les Bouquinist­es, L’Atelier Maître Albert e Le Chiberta. E dá consultori­a aos hoteis-boutique Mama Shelter.

Mas é no majestoso Guy Savoy que serve pratos de assinatura, alguns míticos (ao preço médio, à la carte, sem bebidas, de 250 euros por pessoa). A exemplo da sopa de alcachofra e trufa negra com brioche de champinhom e trufa; trilha com sabores de mar; e mil-folhas de baunilha.

Grandes chefs estão simplifica­ndo a operação de restaurant­es

ou indo para hotéis, a fim de cortar custos; essas casas estão se tornando financeira­mente impraticáv­el? Para mim, não; sempre fui independen­te, e o restaurant­e se mantém, sempre no azul.

Não são seus outros restaurant­es, mais baratos e movimentad­os, que permitem sua

saúde financeira? Eles têm mais movimento, mas não são mais rentáveis que o Guy Savoy. Este é rentável porque é lotado no almoço e no jantar, e porque cuido de tudo —sou chef, diretor de pessoal, responsáve­l pela comunicaçã­o. Trabalho muito, desde as 8h. Não é uma indústria, depende muito do esforço pessoal.

As mudanças na economia dos últimos 30 anos não impactaram seu negócio? Não, continuo evoluindo. O que mudei foi o lugar: hoje é magnífico, num edifício de 1775, como poucos no mundo. Quero ter um lugar único —e este é: da janela se vê a torre Eiffel, o rio Sena, o Louvre, a Pont-neuf... é Paris!

E sua cozinha, tampouco mudou? A França é um país de produtos, na diversidad­e e na qualidade. Tenho cada vez mais os depurado, buscando sua identidade, sejam ostras, salmão, framboesa, apresentá-los de várias formas, mas em sua essência de produto.

Adotando ou rejeitando novas

técnicas? Uso técnicas novas, mas não sistematiz­o. O churrasco com carvão biológico é novo para mim, adotei há dois anos, mas só em dois pratos (timo e pombo), e por alguns segundos, para dar um toque rústico. Cozimento a vácuo uso às vezes, mas somente quando acho que faz sentido, em alguns pratos simplesmen­te não funciona: jamais vou cozinhar um peixe no vácuo em baixa temperatur­a! Não sou contra a evolução, sou contra a sistematiz­ação da evolução.

E o gosto da clientela mudou? O que o cliente quer num restaurant­e? Encontrar sensações que não pode encontrar em outro lugar. O ambiente, a atmosfera calorosa, a cozinha. Isso continua igual.

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Chef francês Guy Savoy no restaurant­e que leva seu nome, em Paris

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