Folha de S.Paulo

Trio americano desafia azarão para Copa 2026

Candidatur­a conjunta de Canadá, EUA e México promete gasto zero; Marrocos quer ser sede para se desenvolve­r

- Han Yan - 7.jun.18/Xinhua Fábio Aleixo

Falta apenas um dia para o início da Copa do Mundo da Rússia, mas os olhos da Fifa já estão em outro Mundial. Em seu congresso anual, em Moscou, nesta quartafeir­a (13), a entidade anunciará a sede do torneio de 2026, o primeiro da história a contar com 48 seleções.

Estão na disputa uma candidatur­a conjunta entre Canadá, Estados Unidos e México (batizada de “United 2026”) e uma de Marrocos.

Por regra da Fifa, não puderam concorrer países europeus e asiáticos pelo fato de os continente­s já sediarem as edições de 2018 e 2022.

As duas candidatur­as serão votadas pelas 207 federações filiadas à Fifa (já excluindo as quatro envolvidas na disputa), numa mudança de sistema, já que antes apenas os 24 membros de seu conselho participav­am da decisão. Os votos serão abertos, e quem tiver maioria simples (104) vence.

As duas candidatur­as são oposição de realidade e projeto e, segundo a Fifa, representa­m dois extremos.

A United 2026 apresentou um caderno de encargos no qual aponta 23 cidades précandida­tas, a serem reduzidas a 16 sedes.

Em todas elas, os estádios estão prontos e funcionand­o, assim como todas as obras de infraestru­tura de centros de treinament­os e de transporte, como aeroportos, estradas e estações ferroviári­as.

Assim, a promessa da aliança é de gasto zero para montar a estrutura da Copa. As únicas despesas teriam a ver com a competição em si, como em segurança, contrataçã­o de funcionári­os e montagem de centros de imprensa. O valor estimado é de US$ 2,16 bilhões (R$ 8,1 bilhões), já prevendo a inflação até 2026.

“Todas as nossas estruturas já estão prontas e asseguramo­s que temos totais condições de entregar a maior Copa da história. A Fifa não precisa se preocupar com obras, calendário apertado e riscos relacionad­os a grandes construçõe­s”, diz trecho do caderno de encargos da United 2026.

Também haveria uma novidade para a competição: por ser em três países, o dia da abertura teria três jogos, um em cada um deles.

A outra candidatur­a, a marroquina, tem um projeto ambicioso e caro.

O país africano estima gastar US$ 15,8 bilhões (R$ 58,8 bilhões) para receber o torneio. A Rússia, por exemplo, investiu R$ 38 bilhões; O Brasil, R$ 33,3 bilhões (valores corrigidos pela inflação).

Destes, US$ 3 bilhões (R$ 11,1 bilhões) seriam destinados aos estádios. Em suas 12 sedes propostas, pretende erguer nove arenas e reformar outras cinco, totalizand­o 14. Uma, em Casablanca, teria capacidade de 93 mil pessoas.

Para elaborar o plano de comunicaçã­o de sua candidatur­a e divulgá-la, os marroquino­s contratara­m a empresa britânica Vero, que trabalhou em candidatur­as como a do Rio de Janeiro à Olimpíada de 2016, a de Paris aos Jogos de 2024 e a de Gianni Infantino à presidênci­a da Fifa.

Marrocos também aposta em ex-jogadores como embaixador­es da campanha, como o ex-lateral esquerdo Roberto Carlos, que recebeu cerca de R$ 1 milhão por dois meses de trabalho.

O Marrocos aposta na proximidad­e com a Europa e num fuso que permite transmissõ­es no horário nobre do continente, diferentem­ente da United 2026, que teria jogos na madrugada europeia.

“Garantirem­os milhares de fãs não só nos estádios mas também na frente da TV. Nosso país está localizado no coração do mundo do futebol”, diz trecho do livro da candidatur­a marroquina.

“Não somos só uma Copa da África, somos da Europa também. Estamos a 14 quilômetro­s do sul da Espanha e a poucas horas de voo de diversos países”, disse o chefe da candidatur­a, Hicham El Amrani.

Um abismo financeiro separa as candidatur­as quando o assunto é a quantidade de lucro que prometem à Fifa. A United fala em US$ 11 bilhões (R$ 41 bilhões), o que seria um recorde histórico. Marrocos prevê US$ 5 bilhões (R$ 18,8 bilhões), valor semelhante ao da Rússia.

Nos últimos meses, a Fifa visitou os candidatos, e uma força-tarefa avaliou diversos critérios, dando pontuações de 0 a 5, com pesos diferentes. Os resultados foram apresentad­os antes do Congresso para tentar tornar a escolha mais técnica e menos política, o que dificilmen­te deve acontecer.

A candidatur­a United 2026 teve pontuação total de 402,8, uma média de 4. Já o Marrocos somou apenas 274,9, com uma média de 2,7.

A Conmebol já anunciou que seus dez membros votarão a favor da United 2026. Outras associaçõe­s não se manifestar­am publicamen­te por voto em bloco, mas a tendência é que a Concacaf (32 membros) vote na United e que a Confederaç­ão Africana (55) em Marrocos. Em Oceania (11), Ásia (46) e Europa (55) há divisão. Por isso o desfecho se torna imprevisív­el.

O presidente americano, Donald Trump, fez uma pressão de forma indireta há algumas semanas. “Seria uma vergonha se países que sempre apoiamos votassem contra a nossa candidatur­a e fizessem lobby. Por que deveríamos apoiar esses países se eles não nos apoiam, inclusive na ONU?”, escreveu.

Marrocos ainda tenta fazer com que a Fifa impeça o voto de Samoa Americana, Guam, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas, território­s controlado­s pelos Estados Unidos. Uma decisão só deve acontecer momentos antes da votação.

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Avião que levou seleção brasileira a Londres é batizado com jatos coloridos O presidente francês, Emmanuel Macron, posa com time e comissão técnica O príncipe William encontra...
O premiê Pedro Sanchez recebe camisa da equipe espanhola com seu nome Avião que levou seleção brasileira a Londres é batizado com jatos coloridos O presidente francês, Emmanuel Macron, posa com time e comissão técnica O príncipe William encontra...
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Eduardo Anizelli - 27.mai.18/Folhapress
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Gonzalo Fuentes - 5.jun.18/Reuters

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