Folha de S.Paulo

Conciso e preciso

- Tostão Ex-médico, participou como jogador das Copas do Mundo de 1966 e 1970

Estou curioso para ver, nesta quinta (14), a festa de abertura da Copa. Duro será assistir, depois, a Rússia e Arábia Saudita. Vou ter de arrumar tempo para ver quase todos os jogos, além de alguns programas esportivos diários, fazer minhas caminhadas e tantas outras coisas. Estou bem preparado, física e psicologic­amente.

Deveremos ver, no Brasil e nas outras grandes seleções, muitos craques e estratégia­s modernas e eficientes, como atacar e defender com muitos jogadores, deixar poucos espaços entre os setores, alternar a marcação mais à frente e a mais recuada, pressionar a saída de bola desde o goleiro e tantos outros detalhes.

Há dois extremos de comportame­ntos no Mundial. Há os que tiram férias do trabalho e do(a) namorado(a), que vão ver até Tunísia e Panamá e que defendem a tese de que não existe jogo ruim em Copa do Mundo. Outros que detestam futebol, que pretendem torcer contra o Brasil e que acham uma alienação e um absurdo mudar a rotina do país.

A sociedade brasileira evoluiu. A expectativ­a inicial, logo após os 7 a 1, era de tragédia esportiva e de aparecimen­to de vários Barbosas. A tristeza foi passageira, e logo surgiram as brincadeir­as. É o que vai ocorrer se o Brasil fracassar neste Mundial. Segundo o Datafolha, 53% dos brasileiro­s estão indiferent­es com a Copa, mais preocupado­s com a violência, a corrupção e os graves problemas que assolam o país.

Os que amam o futebol e a Copa deveriam curti-la, sem abandonar suas atividades e sem perder a indignação.

A Rússia, como o Brasil, construiu vários elefantes brancos a preços exorbitant­es. Por causa do longo tempo de monarquia absolutist­a e, depois, do período de ditadura comunista, a Rússia ainda não aprendeu a conviver com a democracia, com a liberdade de pensamento. Existe uma perseguiçã­o às minorias.

Nas belas imagens mostradas pelas TVs, vejo muito o pôster oficial da Copa, com a foto de Yashin, o maior jogador da história da Rússia e, talvez, o melhor goleiro do mundo de todos os tempos.

Atuei em sua despedida, em Milão, em 1971. Yashin era excepciona­l e sóbrio no gol. Os grandes talentos, em todas as atividades, são os que tornam simples o que é complexo. Os maiores craques não enrolam com a bola. São concisos, precisos, minimalist­as, como era Zé Carlos, companheir­o no Cruzeiro nos anos 1960, que morreu nesta terça (12).

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