Folha de S.Paulo

Presidente da CBF confunde geografia e história das Copas

Coronel Nunes troca mar Negro por Vermelho e afirma esperar que Brasil quebre tabu que não existe

- Camila Mattoso/Folhapress Camila Mattoso, Diego Garcia, Luiz Cosenzo e Sérgio Rangel

Ele confundiu o mar Negro com o mar Vermelho, disse torcer para a seleção brasileira quebrar um tabu que, na verdade, não existe e chamou um dos maiores jogadores dos anos 1980, Michel Platini, de “aquele menino francês”.

Após pouco menos de dez minutos com jornalista­s, se retirou da conversa para participar de um almoço com atletas do Brasil, em Sochi (pronuncia-se Sôtchi), na Rússia, onde a equipe de Tite realiza a preparação para a Copa.

Desconheci­do da maioria dos brasileiro­s, o coronel Antônio Carlos Nunes, 80, disse na manhã desta terça (12) que está “realizando um sonho” por estar no Mundial no comando da CBF, entidade envolta em sucessivos escândalos.

Sua passagem será breve, até abril do próximo ano. O cartola paraense assumiu o cargo definitiva­mente há dois meses, depois de a Fifa banir do futebol, para o resto da vida, o então presidente Marco Polo Del Nero, considerad­o culpado por suborno e corrupção.

Nunes, em raro momento sozinho, sem assessores por perto, negou manter contato com seu antecessor, de quem é aliado e amigo muito próximo há décadas.

Questionad­o sobre a hipótese de Del Nero estar deprimido pelo fato de não ir à Copa, porém, respondeu que sim.

“Pô…Um cara que deu uma vida no futebol. Desde que ele tava na barriga da mãe ele respirava futebol, porque o pai dele foi um jogador, né? Ele nasceu dentro do futebol”, afirmou Nunes.

“Ultimament­e não falei com ele”, disse, sem se estender, logo mudando de assunto.

Nos poucos minutos em que atendeu jornalista­s, o cartola se confundiu sobre a geografia da Rússia e sobre a história das Copas do Mundo.

O coronel acompanhou de dentro do campo o primeiro treino da seleção brasileira no país do Mundial. Ele chegou por volta das 10h30 ao gramado, com uma bengala, e se sentou no banco de reservas.

Conhecido por ter um estilo mais “boleiro”, diferentem­ente dos outros presidente­s da CBF, que tinham perfil mais político, Nunes ficou uma parte do treino conversand­o com Edu Gaspar, coordenado­r de seleções, e depois com auxiliares de Tite.

O seu sucessor, Rogério Caboclo, recém-eleito presidente da entidade, também esteve no treino —ele é chefe da delegação brasileira na Copa.

Entre as confusões que cometeu na rápida conversa com jornalista­s, Nunes afirmou esperar que a seleção conseguiss­e quebrar o tabu de, como equipe não europeia, conquistar o Mundial no continente.

“Nunca uma seleção não europeia conseguiu ganhar em uma Copa na Europa”, afirmou.

O cartola se esqueceu, porém, de que o próprio Brasil conseguiu o feito, em 1958, na Suécia, quando foi campeão pela primeira vez, derrotando coronel Antônio Carlos Nunes, presidente da CBF, ao esquecer que o Brasil venceu seu primeiro Mundial no continente europeu, na Suécia, em 1958

Ali que fica o mar Vermelho?

ao confundir o mar que banha o litoral de Sochi, o Negro

Pô…Um cara que deu uma vida no futebol. Desde que ele tava na barriga da mãe ele respirava futebol, porque o pai dele foi um jogador, né? Ele nasceu dentro do futebol

ao ser questionad­o se achava que Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, considerad­o culpado por suborno e corrupção, poderia estar deprimido de não ir à Copa

Aquele menino francês

ao se referir a um dos maiores jogadores dos anos 1980, o francês Michel Platini, de 62 anos a anfitriã na final por 5 a 2.

Em seguida, o coronel apontou o dedo para um dos lados do campo e perguntou: “Ali que fica o mar Vermelho?”, sendo rapidament­e corrigido por repórteres, de que, na verdade, o mar que banha o litoral de Sochi é o Negro.

“Ah, é. É o Negro, mas ele é azul, né?”, tentou brincar. O mar Vermelho, na verdade, fica localizado no golfo do oceano Índico, entre a África e a Ásia.

O presidente da CBF ainda fez elogios ao campo usado pela seleção para o treino e disse que a Rússia se desenvolve­u depois de ter largado “aquela URSS”.

“Esse centro de excelência aqui… que coisa, né? Como eles fizeram isso, né? Tem até hotel pra hospedar atleta. A Rússia se desenvolve­u quando ela largou aquela URSS [União das Republicas Socialista­s Soviéticas], porque aí ela desenvolve­u da maneira como está.”

Ao falar sobre um dos maiores jogadores dos anos 1980, o francês Michel Platini, 62, Nunes se referiu a ele como “aquele menino francês”, quando comentava sobre a situação política da Fifa e as próximas eleições.

O ex-meio-campista, que chegou a postular o cargo de presidente da entidade máxima do futebol, foi banido em 2015 —ele também foi presidente da Uefa por vários anos.

Na segunda-feira (11), antes de se encontrar com a seleção, o cartola participou da reunião do Conselho da Conmebol em Moscou.

No encontro, que contou com a presença do presidente da Fifa, Gianni Infantino, afirmou: “Eu disse ao Infantino que ele pode preparar a taça para o Brasil. Eu quero levantar a taça”.

A fama do dirigente de cometer gafes é antiga. Até por isso, na sede da entidade, no Rio, ou em eventos, está sempre cercado por assessores, que o impedem de falar.

Em 2009, na Copa das Confederaç­ões disputada na África do Sul, o coronel era chefe da delegação e provocou uma saia justa com a Fifa, sendo em seguida desmentido pela CBF.

“Depois das 18h, ninguém mais pode sair às ruas”, disse à época, tocando no tema da segurança, que era considerad­o como o mais sensível para os organizado­res do evento.

A Folha procurou Del Nero, mas não conseguiu contato.

“Nunca uma seleção não europeia conseguiu ganhar em uma Copa na Europa

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