Tri vice, geração argentina busca fim de tabu na Rússia
Também nesta Copa, Messi e mais cinco estavam em campo nas três derrotas
Em um dos comerciais de TV pré-Copa mais populares na Argentina, o ex-zagueiro campeão do mundo e hoje comentarista Oscar Ruggeri entra em um estádio lotado para pedir a aliança entre torcedores e a seleção.
Um deles grita que perdeu quatro dias de trabalho para ir ao Rio ver a decisão contra a Alemanha, em 2014. “Fez isso porque chegamos à final”, responde Ruggeri, na propaganda da cerveja Quilmes.
A principal discussão sobre a seleção é se ter chegado a três finais nos últimos quatro anos e perdido todas significa ou não um fracasso. São 25 anos sem conquistas para a equipe, que não vence um torneio relevante desde a Copa América de 1993. O último título mundial foi em 1986.
A Argentina se trancou em Bronnitsi (a 55 km de Moscou) desde sábado (9).
Nenhum jogador deu entrevista, o que dificulta saber o que pensam sobre o assunto. Mas é difícil imaginar que a sequência de derrotas decisivas não seja assunto. Principalmente para Messi, Agüero, Higuaín, Biglia, Mascherano e Rojo. Os seis estavam em campo quando a seleção perdeu o Mundial do Brasil e depois caiu diante do Chile duas vezes, nas Copas Américas de 2015 (Chile) e 2016 (EUA).
Messi e Mascherano também foram derrotados pelo Brasil na final do torneio continental de 2007, na Venezuela. “As pessoas e a imprensa não valorizam por termos chegado a três finais. Das três, merecíamos ganhar duas, no mínimo”, constatou Messi.
Uma delas é a de 2014. O consenso na Argentina é que a seleção jogou melhor do que a Alemanha no Maracanã, mas não aproveitou as chances.
Além da má vontade com parte da imprensa, um dos motivos para o técnico Jorge Sampaoli isolar os atletas de todos na periferia de Moscou é evitar perguntas sobre as três finais perdidas.
É um assunto tão sentido que, após a última delas, Messi chegou a anunciar que não jogaria mais pela seleção. “Acho que não é para mim”, disse. Voltou atrás logo depois.
O próprio presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), Claudio Tapia, admite que esta pode ser a última chance de título mundial para o atacante cinco vezes eleito o melhor do planeta.
Questionado sobre o assunto, Lionel, 30, despistou sobre o que pretende fazer. Disse que dependerá do resultado na Rússia. Mas há a chance de ser também a derradeira oportunidade para outros que formaram a base da seleção que chegou perto, mas não foi campeã. Mascherano chega ao torneio com 34 anos.
“Eu já decidi que é minha última participação com a seleção”, afirmou, enfático.
No Mundial do Qatar, Agüero, Di María e Higuaín terão 34. Biglia, 36. Na média de idade, a Argentina tem o elenco mais velho da Copa da Rússia: 29 anos, 6 meses e 24 dias.
A falta de confirmação do futuro de Messi, o astro da companhia, faz com que a Argentina contemple o futuro sem um dos maiores jogadores da história do futebol.
A possibilidade de isso acontecer levou a AFA a oferecer um plano de longo prazo a Sampaoli. “Mesmo que a equipe caia na fase de grupos, o que espero não acontecer, Jorge vai continuar. Ele faz parte do nosso projeto até a Copa de 2022”, disse Tapia.
Uma semana antes da chegada da delegação, o cartola esteve em Bronnitsi. Percebeu que os jogadores estarão livres de influência externa. Mas não das redes sociais, claro. Esta é uma das preocupações. Porque as montagens, os vídeos e os memes direcionados a alguns nomes do elenco, especialmente Higuaín, incomodaram todos.
Isso apesar de Rodrigo Palacio, que perdeu uma chance para dar o título mundial para a Argentina na prorrogação contra a Alemanha, não ter mais sido convocado. A frase “era por baixo, Palacio!” virou quase um bordão no país.
Ao receber a bola livre na área, o atacante tentou encobrir o goleiro Manuel Neuer. Se tivesse tocado rasteiro, teria feito o gol. Palacio não falou mais sobre o assunto.
O maior temor é que Messi fique com a pecha de perdedor com a camisa da seleção argentina. Algo que divide os torcedores do país que cansou de criticar o desempenho do jogador pela equipe, mas se apavorou com a possibilidade de ficar sem ele antes de renunciar à aposentadoria e voltar aos jogos das eliminatórias sul-americanas.
“Isso é absurdo. Messi não precisa ganhar a Copa para ser um dos maiores da história”, disse César Luis Menotti, técnico campeão mundial de 1978. Opinião com a qual Sampaoli concorda 100%.
Mas nem todos concordam. “Para estar no nível de Pelé, Maradona e Cruyff, Messi tem de vencer um Mundial”, contrariou Carlos Bilardo, o campeão do torneio em 1986.
Os seis derrotados em finais