Folha de S.Paulo

Белые ночи (Biélye nótchi)

Fenômeno descreve ‘noites brancas’, que parecem nunca chegar

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Em São Petersburg­o, durante o pico do verão (junho), o sol se põe muito devagar e logo nasce de novo, por isso a noite parece nunca chegar. O fenômeno é chamado “noites brancas” (biélye nótchi) e, embora aconteça também em outras regiões do norte da Rússia, do Canadá e da Europa, tornou-se um dos símbolos da antiga capital russa.

Fundada em 1704 na Fortaleza de Pedro e Paulo, a cidade “mais abstrata” do planeta, como escreveu Dostoiévsk­i, era uma improbabil­idade.

Construída sobre terreno muito pantanoso, a empreitada custou a vida de incontávei­s servos. Mas seu orquestra- dor, Pedro 1º (1672-1725), que, segundo algumas versões, tinha mais de dois metros, estava obcecado: queria modernizar o país e consolidar o acesso ao Mar Báltico, motivo de disputa com a Suécia de Carlos 12, o arqui-inimigo do czar.

Fascinado pelo império naval holandês, Pedro, um rapagão inquieto de 25 anos, foi buscar conhecimen­tos sobre arte naval em Amsterdã.

Ao regressar da Europa, resolveu deixar a imagem da Rússia “bárbara” e “atrasada” para trás: ocidentali­zou o vestuário e os costumes da corte, contratou especialis­tas holandeses para refazer sua frota e arquitetos italianos e alemães para projetar a nova metrópole.

Petersburg­o e a figura de Pedro, o Grande, foram consagrada­s na literatura por Aleksándr Púchkin (1799-1837), “o Sol da poesia russa”. Depois dele, outros escritores, como Nikolai Gógol, Fiódor Dostoiévsk­i, Anna Akhmátova, Daniil Kharms e Joseph Brodsky, usaram temas e mitos da cidade em suas obras: o gênero ficou conhecido como “texto de Petersburg­o”.

A Petersbugo quimérica e estival foi o cenário que o jovem Dostoiévsk­i usou para compor suas Noites Brancas (1848).

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