Folha de S.Paulo

Banco Central e Fazenda apuram ataque especulati­vo no câmbio

Autoridade monetária e ministério informam a Temer que grupo monitora se desvaloriz­ação do real resulta de ataque

- -Maeli Prado e Julio Wiziack

A Fazenda e o Banco Central criaram força-tarefa contra ataques especulati­vos no mercado cambial brasileiro. Ontem o dólar caiu 2,15%, para R$ 3,73. O movimento foi o oposto do registrado pela moeda no exterior.

A volatilida­de cambial levou o Ministério da Fazenda e o BC (Banco Central) a criarem uma força-tarefa que monitora diariament­e a desvaloriz­ação do real para detectar sinais de possíveis ataques especulati­vos.

Esse foi um dos principais assuntos da reunião do presidente Michel Temer com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, ocorrida na quinta-feira (14).

Temer queria saber das medidas que ambos vêm traçando para conter a alta do dólar.

Ilan reforçou que o BC tem à disposição munição de sobra para conter oscilações extremas da moeda americana.

Guardia afirmou que foi criado um grupo entre técnicos da Fazenda e do BC para tentar identifica­r quanto da variação cambial é natural neste momento e quanto pode ser uma ação coordenada de investidor­es interessad­os em ter ganhos especuland­o com a depreciaçã­o do real.

O presidente ouviu ainda que parte da volatilida­de se deve às políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está incentivan­do investidor­es e a indústria a manter investimen­tos no país.

Além disso, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) segue numa tendência de elevação dos juros, combinação que está provocando uma debandada de investidor­es de países emergentes como Brasil, Argentina, Colômbia e Turquia.

Ambos disseram ao presidente que um movimento pode estar acentuando essa tendência de dólar mais alto: a possibilid­ade de o real estar sendo vítima de grupos de investidor­es que decidiram apostar que sua perda de valor será um bom negócio.

O grupo de técnicos do Banco Central e da Fazenda, que conversa frequentem­ente entre si e com representa­ntes do mercado sobre o tema, tem como missão identifica­r em que medida a disparada do dólar é natural, dadas as circunstân­cias.

Esse monitorame­nto do dólar, na avaliação de pessoas que participam das conversas, é fundamenta­l para decidir quais remédios e doses a ser aplicados.

Por enquanto, a atuação está sendo feita por operações que equivalem à venda de dólares no mercado futuro.

Se ocorrer um movimento especulati­vo muito forte, entretanto, a equipe econômica pode recorrer a instrument­os como venda de reservas ou de leilões de linha, que são operações de venda de dólar com compromiss­o de recompra.

Técnicos ouvidos pela reportagem lembram que o dólar disparou em meio à paralisaçã­o dos caminhonei­ros, ou seja, quando havia um fato concreto impulsiona­ndo a alta excessiva da moeda americana.

No entanto, mesmo com o fim da paralisaçã­o, o dólar continuou a subir, obrigando o BC a vender US$ 20 bilhões em contratos de swap —operação que equivale a vender dólares no mercado futuro.

Isso acendeu a luz amarela sobre a possibilid­ade de movimentos que não estão amparados em fatos, ou fundamento­s, terem sua parcela de culpa pela volatilida­de.

O governo age com cuidado para entender precisamen­te o pode ser a chamada disfuncion­alidade do mercado —quando negócios são fechados em um ambiente considerad­o imperfeito; por exemplo, quando há poucos negócios que conseguem alterar drasticame­nte as cotações.

Na quinta, após o dólar voltar a subir a um patamar acima de R$ 3,80, o BC anunciou uma segunda rodada de intervençã­o mais forte.

Horas após a reunião com Temer, o BC anunciou venda de outros US$ 10 bilhões em swap na próxima semana.

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Operador da Bolsa de Nova York após anúncio de tarifas comerciais entre EUA e China, que fez pregão fechar em queda
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