Folha de S.Paulo

Candidatos a governador têm só 15% de mulheres

Dos 175 postulante­s ao Executivo já anunciados, só 27 são do sexo feminino

- -Géssica Brandino

Entre as 175 candidatur­as cogitadas pelas siglas para os governos dos estados e Distrito Federal até o momento, 27 são de mulheres. Em 2014, elas representa­vam 12%.

Se há uma coisa que o MDB de Michel Temer, o PSDB de Geraldo Alckmin e o PSL de Jair Bolsonaro podem ter em comum nas eleições deste ano é o fato de apresentar­em apenas uma mulher como candidata para a disputa aos governos estaduais.

Nessas siglas, que até o momento somam 42 pré-candidatur­as para o cargo, o número de mulheres não chega a 10% dos postulante­s.

A representa­tividade nos outros partidos, porém, também está longe de um cenário de igualdade. Segundo levantamen­to feito pela Folha, das 175 pré-candidatur­as cogitadas pelos partidos até o momento para aos governos dos estados e Distrito Federal, apenas 15%, ou seja, 27, são de mulheres.

PTC, PHS, PRB e PPL não informaram se terão candidatur­as próprias para o cargo.

Comparado às duas últimas eleições, o percentual de candidatas mulheres cresceu pouco. Em 2014, elas eram 12% dos 162 candidatos a governos nas eleições. Já em 2010, esse percentual era de 10% de 150 candidatur­as.

A cientista política, professora da Universida­de Federal da Bahia e pesquisado­ra do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP (Universida­de de São Paulo) Teresa Sacchet destaca que esse percentual de mulheres nos cargos é baixo em todas as esferas.

“Não é uma exceção, mas norma. Se não houver medidas legislativ­as que forcem os partidos a colocar mais mulheres como candidatos, vão continuar dando preferênci­a aos homens, por considerar que eles são mais articulado­s e pelo fato de as direções executivas dos partidos serem compostas na maioria por homens”, afirma.

Das 25 legendas que disputarão os governos, 14 terão mulheres em 19 estados e no Distrito Federal.

O PSB, por exemplo, tem 11 pré-candidatur­as, nenhuma delas de uma mulher. O PT —cujo estatuto determina paridade na executiva do partido— oficializa neste domingo (16) a pré-candidatur­a da filósofa Márcia Tiburi para a disputa no Rio de Janeiro, o terceiro nome da sigla dentre 13 pré-candidatos.

Pesquisado­ra e professora da FGV (Fundação Getulio Vargas), Luciana Ramos avalia que o gargalo nos partidos deriva de uma cultura patriarcal, que determina que o lugar da mulher é no espaço privado, cuidando da família, e não no público. As atividades partidária­s, por vezes, constituem a terceira ou quarta jornada que acumulam.

“Aquilo que a sociedade exige da mulher não está em conformida­de com aquilo que ela poderia fazer. Quando se diz que as mulheres podem tudo, é mentira, porque se exigem várias coisas que impedem de fato a sua vontade política de se candidatar”, diz.

Elevar o número de mulheres, entretanto, não é o suficiente para garantir mais mulheres eleitas. Em 2014, Suely Campos (PP) foi a única eleita para o Executivo estadual, em Roraima. Em 2010, foram eleitas Roseana Sarney (MDB), no Maranhão, e Rosalba Ciarlini (DEM), no Rio Grande do Norte.

Na avaliação de Sacchet, o caminho para aumentar a representa­ção feminina na disputa a cargos majoritári­os, em que o voto é distrital, é fortalecer as organizaçõ­es de mulheres dentro dos partidos pa- ra que haja mais chance nos processos de seleção.

“Quando a disputa é acirrada, as mulheres saem perdendo”, diz.

Já no Legislativ­o, apesar da cota de 30% das candidatur­as determinad­a por lei, um dos motivos para a falta de representa­tividade, na avaliação das especialis­tas, é a ausência de recursos destinados para as candidatas.

Segundo as especialis­tas, um dos motivos é a falta de recursos destinados para as candidatas.

Ramos é colíder de políticas públicas do Grupo Mulheres do Brasil, um movimento que milita pelo aumento de representa­tividade feminina na política que promoveu uma maratona hacker que resultou em protótipos para criação de uma ferramenta de monitorame­nto das candidatur­as ao Legislativ­o.

O intuito do projeto Appartidar­ias 2.0, além de dar visibilida­de para as candidatur­as, é monitorar e criar alertas aos Ministério­s Públicos para investigar se a candidatur­a é fictícia ou não, ou seja, para que recebam recursos suficiente­s.

A plataforma será lançada até as eleições, com uma ferramenta que será usada para emitir alertas para os partidos.

“Nosso principal foco é verificar como será o financiame­nto das campanhas e se os partidos vão cumprir a determinaç­ão dos 30% do fundo partidário. Não só desse fundo, mas do especial de campanha também. É uma ferramenta para a cidadania. Nós, sociedade civil, queremos controlar aquilo que os partidos políticos fazem”, declara a pesquisado­ra.

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