Folha de S.Paulo

Colômbia à direita

Acerca de eleição presidenci­al no país vizinho.

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Um processo que começou a tomar forma na Colômbia há pelo menos dois anos deve ser concretiza­do neste domingo (17), quando se realiza o segundo turno das eleições presidenci­ais.

Trata-se do provável retorno ao poder do grupo político liderado pelo popular ex-presidente direitista Álvaro Uribe (2002-2010), hoje senador reeleito. Ele é a mente por trás de Iván Duque, 41, favorito para suceder o centrista Juan Manuel Santos no comando do país.

O atual presidente deixará o cargo com uma aprovação em torno de 20%, e o candidato governista nem sequer conseguiu passar do primeiro turno. Em sua gestão, o cresciment­o da economia se deu de forma satisfatór­ia, com desemprego controlado e previsão de inflação abaixo de 4% este ano.

Santos será lembrado ainda pelo acordo com a ex-guerrilha Farc, para pôr fim a um conflito de cinco décadas e saldo de mais de 200 mil mortos. A negociação teve amplo apoio internacio­nal e lhe rendeu o Nobel da Paz em 2016.

Entender por que um mandatário com essas credenciai­s sairá em baixa passa pela própria assinatura do pacto —de natureza controvers­a para parte dos colombiano­s— e pela decisão de Santos de romper com Uribe, seu antigo padrinho.

O governo uribista destacou-se pelo combate às guerrilhas, com consequent­e redução dos índices de violência. Também agradava o discurso duro contra o chavismo na vizinha Venezuela. O êxito da gestão foi tal que partidário­s buscaram uma via para permitir um terceiro mandato, o que acabou barrado pela Justiça.

Embora tenha sido ministro da Defesa de Uribe, seu sucessor optou por abrir diálogo com Hugo Chávez e negociar um entendimen­to com as Farc.

Desta feita, passou a ser visto como traidor pelo eleitorado mais conservado­r, e o ex-presidente soube explorar esse sentimento, sobretudo no tocante às negociaçõe­s com os guerrilhei­ros.

O sinal de insatisfaç­ão já fora dado quando Santos, até então convicto do sucesso de sua empreitada, convocou plebiscito em 2016 sobre o acordo de paz. As pesquisas apontavam vantagem do “sim”, mas as urnas acabaram por revelar uma vitória apertada do “não”.

Caso Iván Duque de fato vença o rival esquerdist­a Gustavo Petro, é provável que tente reformar pontos do documento. Não se trata de tarefa simples, uma vez que o bloco conservado­r não tem maioria consolidad­a no Congresso.

Como senador, entretanto, Uribe já se movimenta para formar uma coalizão com partidos de centro. Convém, como se viu, não desprezar sua capacidade de liderança.

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