Folha de S.Paulo

Atual sistema de acompanham­ento externo do Judiciário não é suficiente

- -Fernando Mendes, Marcelo Knopfelmac­her e Walfrido Warde Jr. Juiz federal e advogados, copresiden­tes do Observatór­io de Justiça

O Poder Judiciário está incumbido de dar respostas a um número de aproximada­mente 80 milhões de conflitos hoje existentes no Brasil, segundo o último relatório “Justiça em Números” do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

São demandas que correm na Justiça comum (Estadual), nas Justiças especializ­adas (Federal, Militar, Eleitoral, do Trabalho) e cortes superiores (STJ, TST, STM, TSE e STF). São 90 tribunais.

O número de processos e os valores em discussão surpreende­m. Se for considerad­a apenas a dívida ativa da União, os conflitos sob análise correspond­eriam a R$ 1,3 trilhão. Mas o valor em disputas judiciais é bem superior.

Em 2016, cada magistrado brasileiro de primeira instância esteve incumbido de julgar, em média, 7.192 processos.

Já os juízes de segunda instância tiveram a carga de trabalho correspond­ente a 3.384 processos, segundo o mesmo relatório do CNJ. Apenas 12% do volume total de processos, nesse mesmo ano se resolveram mediante acordos.

Criado pela reforma do Judiciário de 2004, o CNJ é o órgão, em âmbito nacional, incumbido de aperfeiçoa­r o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalm­ente no que diz respeito ao controle e à transparên­cia administra­tiva e processual.

É sua missão o desenvolvi­mento de políticas que promovam a efetividad­e e a unidade do Judiciário, orientadas para os valores de justiça e paz social.

Desde sua instalação, em 2005, e tirando a competênci­a da corregedor­ia, o CNJ tem sido provocado por solicitaçõ­es de entidades da sociedade civil, no plano institucio­nal e das questões coletivas; e por pessoas naturais, no plano de questões individuai­s.

No que diz respeito às solicitaçõ­es da sociedade civil, é natural que a agenda seja normalment­e de índole corporativ­a: as entidades de advogados fazem solicitaçõ­es próprias da advocacia; as entidades do Poder Judiciário fazem ponderaçõe­s que lhes digam respeito; e as entidades representa­tivas do Ministério Público pugnam por suas questões.

Contudo, essa maneira de controle e acompanham­ento externo das diretrizes do Poder Judiciário nem sempre produz um modelo de Justiça que seja ideal para todos, porque as respostas não partem de solicitaçõ­es comuns.

Como resultado de um think tank criado em 2016 por advogados, juízes, promotores e outros integrante­s de carreiras jurídicas, um grupo comprometi­do com o pensamento do direito decidiu criar uma entidade formal, possivelme­nte a primeira no Brasil, com representa­ção equânime entre magistratu­ra, advocacia e Ministério Público.

A ideia desse Observatór­io de Justiça é justamente contribuir para a proposição coletiva de um melhor e mais racional sistema de Justiça no Brasil. As pautas são previament­e discutidas e, chegando-se a um consenso mínimo, se parte para as postulaçõe­s.

Entendemos que só com o debate franco, aberto, plural, democrátic­o, representa­tivo, e que não se identifiqu­e à pauta exclusivam­ente corporativ­a conseguire­mos contribuir para um sistema de Justiça mais efetivo e racional no Brasil, prestigian­do a rápida —porém justa— apreciação dos conflitos.

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