Folha de S.Paulo

Destino de refugiados ameaça rachar coalizão liderada por Merkel

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A questão imigratóri­a não está causando divisões apenas entre os parceiros europeus. Na Alemanha, a coalizão da chanceler Angela Merkel está à beira da ruptura, apenas três meses após o início de seu governo.

A disputa ocorre entre a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler, e a União Social Cristã (CSU), espécie de legenda-irmã da conservado­ra CDU no estado da Baviera. Ambos são aliados há quase 70 anos.

A terceira força na coalizão, o Partido Social Democrata (SPD), diz estar perdendo a paciência com os demais.

“Creio que Merkel vai tentar até o fim encontrar uma unidade neste tema”, disse o porta-voz de assuntos domésticos da CDU e aliado da chanceler, Mathias Middelberg. Ele não descartou a possibilid­ade de ruptura da aliança com a CSU.

Middelberg disse que a grande maioria da CDU apoia a posição de Merkel de tentar encontrar uma solução europeia para a questão imigratóri­a, tema que deve dominar a cúpula da União Europeia no fim do mês.

“Não devemos contribuir para o enfraqueci­mento da União Europeia e deixar que medidas puramente nacionais voltem à tona na Europa”, disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert.

A Alemanha quer propor no encontro que os refugiados sejam divididos de maneira mais equitativa entre os países da UE, onde a questão tem causado fricção entre a Itália e a França (leia texto ao lado).

Mas a CSU não quer esperar e deseja que Merkel tome uma decisão unilateral.

A política de portas abertas adotada pela chanceler em 2015 acertou em cheio a Baviera, que recebeu a maior parte do cerca de 1 milhão de refugiados acolhidos pelo país. Depois, essas pessoas foram distribuíd­as pelos diversos estados, seguindo critérios populacion­ais.

A CSU considera que essa política foi responsáve­l pelo apoio ao partido populista anti-imigração Alternativ­a para a Alemanha (AfD), que se tornou a maior força da oposição no Parlamento após as eleições de 2017.

O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, que é da CSU, quer que a Alemanha rejeite a entrada de refugiados que já tenham sido registrado­s em outros países europeus, uma medida a que Merkel se opõe. A CSU enfrenta eleições regionais em outubro e teme que suas décadas de domínio na Baviera sejam ameaçadas pelo sentimento antiimigra­ção.

Em contrapart­ida, a CDU sugere que sejam rejeitados na fronteira apenas aqueles cujos pedidos de asilo já tenham sido negados por outros países europeus.

O SPD (centro-esquerda) instou as legendas-irmãs a resolverem suas diferenças. “A tarefa de governar nosso país não é um episódio de ‘Game of Thrones’, mas um assunto muito sério. Aqueles envolvidos não devem se esquecer disso”, afirmou o ministro das Finanças, Olaf Scholz, social-democrata.

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