Folha de S.Paulo

Asiáticos acusam Harvard de discrimina­ção

Candidatos vão à Justiça reclamar de viés em critério de admissão que avalia personalid­ade; universida­de nega preconceit­o

- The New York Times, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Harvard dá constantem­ente notas mais baixas aos candidatos asiático-americanos do que aos de outras raças em traços como “personalid­ade positiva”, simpatia, coragem, gentileza e ser “amplamente respeitado­s”.

A constataçã­o é resultado de uma análise de mais de 160 mil registros de estudantes e foi apresentad­a nesta sexta-feira (15) a um tribunal federal em Boston por um grupo que representa estudantes asiático-americanos em uma ação contra a universida­de.

Os asiático-americanos tiveram notas mais altas que os candidatos de qualquer outro grupo racial ou étnico em critérios de admissão como notas em provas, classifica­ção e atividades extracurri­culares, segundo a análise encomendad­a por um grupo que é contra todos os critérios de admissão baseados em raças.

Mas as notas pessoais dos estudantes reduziram drasticame­nte suas probabilid­ades de ser admitidos, de acordo com a análise.

“Hoje Harvard pratica o mesmo tipo de discrimina­ção e estereotip­agem que usou para justificar cotas para candidatos judeus nos anos 1920 e 1930”, disse o grupo Estudantes por Admissões Justas.

Os próprios pesquisado­res de Harvard citaram um preconceit­o contra candidatos asiático-americanos em uma série de relatórios internos em 2013. Mas a universida­de ignorou as conclusões, segundo os documentos do tribunal, e nunca os divulgou.

Esses e outros detalhes fazem parte de uma ação que acusa Harvard de sistematic­amente discrimina­r os asiático-americanos, violando a lei de direitos civis.

Segundo os Estudantes por Admissões Justas, Harvard impõe o que é na verdade uma cota branda de “equilíbrio racial”. Isso, de acordo com eles, mantém o número de asiático-americanos artificial­mente baixo, enquanto promove candidatos brancos, negros e hispânicos menos qualificad­os.

Harvard defendeu vigorosame­nte seu processo de admissão nesta sexta-feira, dizendo que sua própria análise por especialis­tas não demonstrou discrimina­ção.

A instituiçã­o atacou o fundador dos Estudantes por Admissões Justas, Edward Blum, acusando-o de usar Harvard para orquestrar uma contestaçã­o das admissões ligadas a fatores raciais que acabaria na Suprema Corte.

“A análise profunda e abrangente dos dados e evidências deixa claro que o Harvard College não discrimina candidatos de qualquer grupo, incluindo os asiático-americanos, cujo índice de admissão aumentou 29% na última década”, disse a universida­de.

“O senhor Blum e a análise de dados incompleta e enganosa de sua organizaçã­o pintam uma imagem perigosame­nte imprecisa do processo de admissões.”

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