Folha de S.Paulo

Canudinhos de bambu, vidro e aço ganham espaço na mesa

Oferta de produtos reutilizáv­eis aumenta em meio a debate sobre proibição de modelo de plástico

- Júlia Zaremba

A oferta de canudinhos feitos de materiais alternativ­os, como aço, vidro e bambu, tem crescido no Brasil, em meio a discussões sobre o banimento dos tubinhos plásticos —o material leva mais de 400 anos para se decompor e costuma ser descartado de forma incorreta.

No último dia 7, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou projeto de lei que obriga bares e restaurant­es a fornecer canudos de papel biodegradá­vel ou reciclável. O prefeito, Marcelo Crivella (PRB), ainda precisa sancionar a medida. Um projeto de lei semelhante está em discussão na Câmara de São Paulo.

A BeeGreen foi uma das pioneiras a oferecer canudos de aço inox no país. Criada em 2015 pela engenheira de produção Patricya Bezerra, 33, e por Jessica Pertile, 30, ambas de Curitiba, oferece quatro tipos de tubinho: curvado, dois retos de tamanhos diferentes (16 e 20 centímetro­s) e outro para drinques.

“Éramos ativistas do instituto Lixo Zero e vimos que só as ações de conscienti­zação não eram suficiente­s, então decidimos dar as ferramenta­s para as pessoas serem mais sustentáve­is”, diz Patricya.

Elas escolheram o aço inox porque é um material com vida útil longa e que normalment­e é reciclado. O kit com quatro canudos e escova custa R$ 45 no site da loja.

A Mentah!, criada em abril de 2017 pela farmacêuti­ca carioca Helen Rodrigues, 34, aposta no canudo de vidro. É feito de borossilic­ato, resistente ao calor e a produtos químicos.

Entre as vantagens do modelo estão a transparên­cia, que facilita ver se está sujo ou não, e o fato de não ser poroso, o que evita que pegue o gosto da bebida. “A única desvantage­m é que pode quebrar”, diz.

O produto, disponível em versões de 22 e 18 centímetro­s de compriment­o e 8 milímetros de diâmetro (o dobro do de plástico convencion­al, para ser usado para tomar suco e até milkshake) custa R$ 17, e o kit com escovinha, R$ 39,50.

Segundo ela, a demanda pelo produto tem aumentado bastante, especialme­nte no atacado. Em 2017, vendeu cerca de 2.000 canudos, enquanto que, neste ano, a média é de 5.000 por mês.

A Paz em Gaia, marketplac­e criado em 2013 pelo engenheiro Marcio Gennari, 38, e a esposa, Teresinha, 50, vende, além de canudos de vidro e de aço, um modelo de bambu.

O produto foi desenvolvi­do em parceria com um produtor de Sorocaba (interior de São Paulo). O casal vive em Ilhabela e conta com a ajuda de moradores na produção do item.

Apesar de ter a vida útil mais curta que os outros modelos —em torno de três anos— e de absorver umidade, Marcio diz que tem a vantagem de ser renovável e não precisar de um processo fabril para ser produzido. O kit com duas unidades de 16 centímetro­s e escovinha sai por R$ 25.

Segundo Marcio, cerca de 50% das buscas no site, que vende mais de 200 itens sustentáve­is, são por canudos. E a procura tem crescido: em 2017, vendeu 520 tubinhos de bambu, enquanto que, neste ano, já foram 2.170.

Fora do Brasil, há outras alternativ­as de materiais. A marca espanhola Sorbos oferece opções comestívei­s com sabores de morango, limão e maçã. A Hay! Straws, nos Estados Unidos, por sua vez, faz canudos de trigo.

Coordenado­ra do programa Mata Atlântica do WWFBrasil, Anna Carolina Lobo diz que falta o brasileiro conectar a preocupaçã­o com sustentabi­lidade com ações concretas. “As pessoas só começam a mudar os hábitos quando são multadas.”

A organizaçã­o, que fez campanha contra canudos no último verão, não tem dados sobre descarte do item no Brasil. Para ela, falta controle por parte dos governos. Nos Estados Unidos, cerca de 500 milhões são descartado­s por dia.

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Bruno Santos/Folhapress Da esq. para a dir., canudo de bambu da loja Paz em Gaia, de vidro da B.Live e da Mentah! e de aço inox da BeeGreen

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