Folha de S.Paulo

Empresas antecipam prazos e liberam home office para vencer a Copa

Estratégia­s tentam reduzir queda de produtivid­ade esperada durante o Mundial sem desagradar funcionári­os nem gestores

- -Anna Rangel Alberto Rocha/Folhapress Zanone Fraissat/Folhapress

A tática adotada por empresas para manter a produtivid­ade durante a Copa do Mundo envolve três frentes: liberar o home office, incentivar os funcionári­os a antecipar prazos e criar ambientes no escritório para que todos possam ver os jogos juntos.

As perdas de produção já são esperadas durante o Mundial, de acordo com Fernando Mantovani, da consultori­a de RH Robert Half.

Em 2014, quando o Brasil sediou a competição, 70% dos profission­ais tiveram queda de desempenho nos dias dos jogos, segundo levantamen­to da consultori­a Wiabiliza, que falou com 307 empresas em junho e julho daquele ano.

Nesta Copa, as organizaçõ­es não esperam tanto prejuízo: 51% dos profission­ais de RH apostam que não haverá diferença na produção em dias de jogos da seleção na Rússia, segundo levantamen­to da Robert Half, que consultou cerca de 400 pessoas em todo o país em abril e maio.

Nenhuma companhia é obrigada a parar por causa dos jogos, explica Maurício Pepe de Lion, sócio da área trabalhist­a do Felsberg Advogados. Mas é impossível ignorar as partidas.

“Se a empresa não deixar o funcionári­o ver o jogo, ele vai dar um jeito nem que seja se trancando no banheiro com o celular”, diz Mantovani.

Para quem foi liberado, a recomendaç­ão é se organizar e cruzar os prazos de entrega com a tabela de jogos da Copa, para trabalhar um pouco a mais nos dias anteriores aos jogos, orienta Miriam Rodrigues, professora da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie.

O administra­dor financeiro Mahamadou Diawara, 26, é francês e vai assistir a partidas de seu país na farmacêuti­ca Sanofi, onde trabalha, mas pretende ficar uma hora a mais nos outros dias.

“Se mesmo assim ficar algo pendente, posso compensar no dia depois do jogo”, afirma.

Se a empresa pedir compensaçã­o do banco de horas, o indicado é “pagar” o quanto antes, se possível em um mês, de acordo com De Lion.

Quem é gestor pode colocar uma data para que a equipe termine as tarefas do mês.

A administra­dora Mônica Marasca, 50, que faz questão de acompanhar o Mundial, pediu à sua equipe na Sanofi que se antecipe para entregar tudo até 25 de junho.

Para Mônica, o planejamen­to da Copa de 2014 foi mais difícil, porque o país era sede.

“Tínhamos feriados e todo o mundo estava em função do evento, então perdemos alguns dias”, afirma.

A Sanofi vai transmitir jogos na empresa e liberou home office para funcionári­os assistirem a partidas de seus países, já que alguns colaborado­res vêm da Europa e de outros países da América Latina.

O expediente em casa ou mais curto, com desconto no banco de horas, é uma boa tática para evitar aumento de faltas, diz Joel Dutra, especialis­ta em gestão de pessoas e professor da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção).

Se não dá para liberar as pessoas, oferecer um espaço onde todos podem ver os jogos durante o expediente é a saída.

A opção não é a favorita dos colaborado­res: só 5% preferem ver partidas na firma, diz a pesquisa da Robert Half.

Quem gosta muito da competição já se organizou para tirar férias durante o Mundial. Foi a tática do químico Rafael Gianinni, 25, que vai acompanhar a Copa a partir de 30 de junho da televisão de casa.

“Quero ver todos os jogos do mata-mata, não só os do Brasil”, conta.

A Ecolab, onde ele trabalha, vai liberar funcionári­os nos jogos durante a tarde, mas pede que voltem ao trabalho depois da partida que começa às 9h, Brasil e Costa Rica, que acontece na sexta (22).

As empresas dizem ter pedido a opinião dos colaborado­res antes de decidir o que fazer durante o evento.

Para Dutra, essa é uma boa forma de construir consenso, para que a decisão não seja vista como de cima para baixo.

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O escritório da Ecolab, em São Paulo (SP), decorado para a Copa
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Mônica Marasca e Mahamadou Diawara, no escritório da farmacêuti­ca em que trabalham, em SP

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