Folha de S.Paulo

Tabela do frete oficializa cartel, diz Fazenda

Em nota técnica enviada ao STF, ministério também avalia que pode ocorrer aumento dos preços para o consumidor

- -Laís Alegretti e Reynaldo Turollo

O Ministério da Fazenda enviou uma nota técnica ao STF (Supremo Tribunal Federal) em que critica o tabelament­o de frete do transporte de carga por rodovias. Sem supervisão adequada, de acordo com o documento, o tabelament­o poderia se tornar “um cartel institucio­nalizado pelo Estado”.

A tabela com preços mínimos de frete para o transporte de carga é um dos pontos do acordo feito entre o presidente Michel Temer e representa­ntes dos caminhonei­ros que fizeram paralisaçã­o em todo o país.

A nota técnica aponta que a medida provisória que prevê o tabelament­o “foi emitida em meio a uma crise de abastecime­nto sem precedente­s, sob alegações de possível locaute e cartelizaç­ão —ainda sob investigaç­ão do Cade [Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica]”.

De acordo com o documento, uma análise do impacto regulatóri­o não estava prevista na medida, o que pode significar um efeito oposto ao esperado e levar a uma “perda de bem-estar para o consumidor”, avalia o documento.

O texto diz, ainda, que a medida penalizari­a mais as famílias mais pobres, se houver aumento dos custos de produtos alimentíci­os.

O parecer foi enviado a pedido do ministro Luiz Fux, no âmbito das Adins (Ações Diretas de Inconstitu­cionalidad­e) que tramitam no STF. O documento é assinado pelo secretário de Promoção da Produtivid­ade e Advocacia da Concorrênc­ia, João Manoel Pinho de Mello.

Após questionam­entos em relação à tabela, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, chegou a dizer que a mudança foi uma decisão tomada no calor do momento e que “talvez não seja a melhor solução para os caminhonei­ros e para a sociedade como um todo”.

A Folha mostrou que, na semana passada, o Palácio do Planalto já admitia que a questão poderia ser decidida pela Justiça e que esse era visto como o melhor cenário para o governo.

Temer está com dificuldad­e para cumprir o combinado com os caminhonei­ros em relação à tabela.

A primeira versão do texto, publicada no dia 30 de maio, desagradou ao setor produtivo, porque estabeleci­a preços que chegavam a quase três vezes o que era praticado antes.

Depois disso, a ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres) divulgou um novo documento, mas, quatro horas depois da publicação, o ministro dos Transporte­s, Valter Casimiro, anunciou que o documento seria revogado.

Além da forte pressão do setor produtivo, um ponto que dificulta a negociação é a grande quantidade de associaçõe­s de caminhonei­ros autônomos, que nem sempre defendem os mesmos pontos.

Fux suspendeu na quintafeir­a (14) todas as ações que tramitam nas instâncias inferiores da Justiça contra a tabela do frete, instituída por medida provisória em resposta à paralisaçã­o dos caminhonei­ros.

Com a decisão, o ministro Fux tenta uniformiza­r as decisões judiciais sobre o tema e evitar que conflitem com as duas Adins ajuizadas no Supremo contra a medida provisória 832 do governo Michel Temer.

Segundo a AGU (Advocacia-Geral da União), que representa o governo, até a quarta-feira (13), havia 40 processos contra a tabela do frete em diferentes instâncias.

Fux também marcou uma reunião em seu gabinete na quarta-feira (20) para tratar da questão com a advogada-geral da União, Grace Mendonça, o ministro dos Transporte­s, Valter Casemiro, a procurador­ageral, Raquel Dodge, e representa­ntes da ANTT, Associação do Transporte Rodoviário de Carga do Brasil e CNA.

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