Conheça prós e contras antes de escolher entre redes locais e globais
Das 2.800 franqueadoras no país, 200 são estrangeiras, que têm público fiel, mas geram retorno mais lento
Preferidas dos franqueados, as redes brasileiras são mais procuradas porque, ao menos em tese, possuem maior intimidade com o ambiente de negócios, viveram na pele as crises recorrentes, conhecem as brechas e oportunidades em primeira mão. Também porque teriam maior capacidade de monitoramento da rede, decisiva para o ganho de escala.
Segundo os especialistas, os pontos fortes das redes estrangeiras começam na expertise acumulada nos países de origem, na escala do negócio, e principalmente na força da marca e no apetite do público fiel a ela. Isso explica porque algumas das maiores redes exigem investimentos na casa de R$ 700 mil, no ramo de alimentação, por exemplo, mesmo depois da crise.
O mercado nacional de franquias é dominado por brasileiras. Das 2,8 mil franqueadoras no país, cerca de 200, são estrangeiras. Elas veem de 26 países, e EUA, Portugal e Argentina lideram o ranking, com respectivamente 40%, 11% e 7% do investimento total, segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising).
A consultora Lyana Bittencourt, diretora-executiva do Grupo Bittencourt, cuida do processo de estruturação da rede norte-americana de malas Samsonite, que lança sua operação na feira da ABF.
“Ao contrário dos fast food, no comércio de malas não existem tantas franquias. E é uma marca reconhecida pelos clientes, que chega ao país com tradição”, diz Lyanna.
Até agora, a Samsonite só tinha lojas próprias. As franquias deverão entrar em operação no segundo semestre.
No mercado brasileiro desde 2010, a rede argentina de sorvetes Freddo tem 29 pontos no país. Chegou a 35 unidades, mas adaptou seu negócio à crise e às características do mercado. No início vendia só sorvetes, como na Argentina, mas incluiu sanduíches, salgados, doces, cafés e outros itens.
Os sorvetes continuam a ser fabricados em Buenos Aires e chegam ao Brasil em caminhões. O candidato a franqueado passa por um treinamento de ao menos uma semana na capital argentina.
“O relacionamento com os argentinos é fundamental para o negócio. A vantagem é que eles nos entendem, inclusive por terem crises parecidas com as brasileiras”, diz Juliano Ribeiro, diretor de mercado da Freddo. “Em alguns casos, aceitam as sugestões dos franqueados, como a ampliação do cardápio”.
A expectativa da Freddo é voltar a 34 unidades até o fim do ano, todas de franquias com investimento inicial de R$ 250 mil a R$ 300 mil e retorno prometido de 24 a 30 meses. Mais que crescer em número, o momento da rede é de se concentrar na recuperação da rentabilidade.
Especializada em assistência pessoal de idosos, a Home Angels integra o grupo brasileiro Zaiom, de Campinas (SP), que tem outras redes de franquias. A primeira surgiu em 2008, no ramo de reforço escolar infantil. No ano seguinte, os sócios criaram a Home Angels, de cuidadores. São 120 franqueados no Brasil e outros 25 em fase de implantação. A empresa considera abrir uma unidade a cada 250 mil habitantes.
Com investimento inicial de R$ 25 mil a R$ 80 mil, conforme o perfil da cidade, o gasto médio mensal é de R$ 12 mil, em um segmento de crescimento acelerado. “A grande vantagem é que conseguimos ensinar todas as habilidades que os franqueados precisam ter para administrar o negócio a longo prazo”, diz Artur Hipólito, diretor da Home Angels.
“Os franqueados saem com site no ar, campanha online, contratos para cuidadores, tudo pronto para trabalhar.”
Gigante global, a rede do McDonald’s tem 929 restaurantes no Brasil. Cerca de 370 são operados por 62 franqueados, com 2 milhões de clientes por dia.
O perfil dos franqueados, segundo a empresa, é ter afinidade com o varejo e habilidade para o relacionamento pessoal. Mas é preciso passar por um treinamento de nove meses. “Há um estágio com outro franqueado antes de assumir sua própria loja”, diz Dorival Oliveira, vice-presidente de franquias do McDonald’s.
Além da taxa de franquia e dos royalties mensais, o franqueado arca também com os equipamentos. A rede banca o investimento imobiliário e de instalações, com posterior contrato de locação, mas não revela o investimento inicial.
A rede norte-americana, que anunciou investimento de R$ 1,25 bilhão no Brasil entre 2018 e 2019, pretende abrir mais 128 restaurantes.
Professor da pós-graduação da Unip, Pedro Resende Melo chama a atenção para os custos mais elevados das estrangeiras, o que se traduz em tempo maior para a recuperação do investimento.
“No caso das nacionais, o maior dilema tem a ver com a dificuldade para interiorizar a rede, replicando o modelo em mercados menores, o que nem sempre funciona.”