Folha de S.Paulo

Juiz dá 1 mês para governo Trump reagrupar famílias de imigrantes

Governo americano diz não ter estratégia para reagrupar filhos de migrantes separados dos pais

- Estelita Hass Carazzai Susan Walsh/Associated Press

Uma semana após o presidente dos EUA, Donald Trump, recuar em seu decreto para levar a julgamento criminal migrantes que tentem entrar nos EUA sem os documentos necessário­s, um juiz federal decidiu que separar pais e filhos para submeter os adultos ao processo é ilegal e ordenou a rápida reunião das famílias.

Na decisão na noite de terça (26, madrugada de quarta, 27, no Brasil), o juiz Dana Sabraw, da Califórnia, afirmou ter sido informado pelo governo federal que não há estratégia específica para reunir esses pais aos filhos.

Desde o início das prisões, em abril, mais de 2.300 crianças e adolescent­es foram separados de seus pais e enviadas a abrigos mantidos pelo governo federal pelo país. Cerca de 1.800 continuam retidos.

Entre eles, há 51 brasileiro­s, alvo de uma cobrança feita na terça pelo presidente Michel Temer ao receber o vice de Trump, Mike Pence, em Brasília —Pence disse que trabalhari­a pela reunificaç­ão.

A decisão de Sabraw, porém, indica que o governo americano não tem plano de ação. O Departamen­to de Justiça afirmou ao juiz que está “dando passos” para cumprir a ordem de Trump, do dia 20, para reunir as famílias, mas alegou que o processo é longo e precisa seguir previsões legais.

Sabraw determinou um prazo de 14 dias para entregar aos pais as crianças de até cinco anos e de 30 dias para aquelas que tenham de 6 a 17.

Na ação, a União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu) alega que o governo federal deve “enfrentar as caóticas circunstân­cias que criou” e cita oito casos específico­s, entre eles o de uma brasileira.

Com a decisão de Sabraw, agentes de imigração dos EUA não poderão separar pais e filhos quando detidos por cruzarem ilegalment­e a fronteira.

Embora Trump tivesse recuado em seu decreto, nada o impedia, até então, de retomar a prática se quisesse. Para fazê-lo agora, o presidente terá que apelar na Justiça. O prazo dado pelo juiz visa acelerar um processo que patina. Até o último sábado, 522 crianças foram entregues às suas famílias, mas em muitos casos os pais desconhece­m o paradeiro dos filhos, já que os abrigos em que são mantidos não necessaria­mente são próximos do local da prisão.

“Não há um plano em andamento, e famílias estão separadas há meses”, afirmou Sabraw, que chamou a situação atual de realidade alarmante.

Para ele, o único cenário em que as agências de imigração dos EUA preveem hoje a reunificaç­ão é o da deportação, quando pais e filhos são enviados de volta aos países de origem —dos quais fugiram, muitas vezes, para escapar da violência e da cooptação de menores por gangues.

O magistrado criticou a falta de comunicaçã­o entre os órgãos federais, também reconhecid­a pelo governo. “Para além da deportação, o ônus [do processo de reunião] recai sobre os pais”, escreveu.

Um segundo problema exposto pela decisão é o da falta de vagas no sistema de detenção de imigrantes para responder ao fluxo de estrangeir­os que atravessam a fronteira dos EUA, onde foram apreendida­s em maio cerca de 40 mil pessoas —das quais aproximada­mente 9.500 viajavam com menores.

Segundo dados fornecidos à Justiça, os centros específico­s para famílias têm apenas 2.700 vagas. Para pais acompanhad­os de menores, são 86 pos- tos, o que leva a grande maioria das crianças a abrigos.

O magistrado avaliou que a separação das famílias provoca danos irreparáve­is aos pais e aos menores, e fundamento­u sua decisão em depoimento­s de pais e especialis­tas.

Um dos casos listados na ação é o de uma brasileira que tentou entrar ilegalment­e nos EUA com o filho de 14 anos em agosto de 2017. Apreendido­s pela patrulha da fronteira, foram separados, e o menino passou dez meses em um abrigo até que a mãe fosse libertada sob fiança.

O Departamen­to de Justiça, que ainda pode recorrer da decisão, argumentou que a reunificaç­ão deve cumprir passos estabeleci­dos em leis anteriores para proteger as crianças do tráfico de pessoas ou impedir que elas sejam transferid­as a ambientes que ponham em risco seu bem-estar.

Para o governo dos EUA, a ordem “provavelme­nte irá retardar o processo de reunificaç­ão e causar confusão e obrigações conflitant­es, em vez de acelerar o processo”.

Em nota nesta quarta (27), o governo cobrou que o Congresso edite textos que permitam “o cumpriment­o da lei e a manutenção das famílias unidas”. A primeira tentativa falhou: a Câmara não aprovou uma proposta de reforma migratória ante a falta de consenso entre democratas e republican­os.

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Donald Trump gesticula após falar em evento na Casa Branca, na quarta

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