Folha de S.Paulo

Fronteira agrícola

- Bruno Boghossian

Das mais de 300 frentes parlamenta­res em atividade no Congresso, nenhuma é tão poderosa quanto a bancada ruralista. Apoiado pelo lobby do agronegóci­o, o grupo ganhou força nos momentos de crise do governo Michel Temer e passou a exercer influência política em terrenos que vão além da lavoura.

O campo ficou pequeno para esse clube de senadores e deputados —conservado­res em sua maioria.

“Agora, [a TV] mostra beijo de homem com homem, de mulher com mulher. Vai dizer que isso é normal? Pode ser natural, mas não precisa fazer propaganda”, reclamou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), vicepresid­ente da bancada, em um jantar na segunda-feira (25).

A festa comemorava a aprovação, naquela noite, do projeto que facilita o uso de agrotóxico­s, mas Marcos Montes (PSD-MG) sustentou que os ruralistas precisam ir além. “Como na época do impeachmen­t, temos que apontar um caminho para o Brasil”, disse o deputado.

Com 209 deputados, a frente representa 40% da Câmara e atua com uma disciplina que faz inveja a muitos partidos. Quase 85% de seus integrante­s votaram pela derrubada de Dilma Rousseff, por exemplo.

O bloco também deu dois terços dos votos que salvaram Temer na primeira denúncia da Procurador­iaGeral da República, em 2017. A negociação e a chantagem foram explícitas. Na véspera, o presidente editou uma medida provisória que permitiu a renegociaç­ão de dívidas de R$ 17 bilhões dos produtores rurais.

Organizada e com dinheiro de sobra, a bancada ocupa espaços estratégic­os. Capturou metade da Comissão de Meio Ambiente da Câmara e, em 2015, dominou 32 das 48 cadeiras do colegiado que discutia regras de demarcação de terras indígenas.

Os ruralistas chegam à campanha presidenci­al disputados a tapa pelos pré-candidatos. Turbinados pelo PIB do campo, que deixou a economia brasileira com o nariz fora d’água, esses políticos pretendem influencia­r mais do que o debate sobre a agricultur­a na eleição.

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