Folha de S.Paulo

Visita de vice dos EUA a refugiados em Manaus gera críticas

- Monica Prestes e Patrícia Campos Mello Ricardo Oliveira/AFP

No último dia de sua passagem pelo Brasil, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, visitou um abrigo em Manaus que acolhe imigrantes venezuelan­os.

O local, que foi adaptado para receber famílias inteiras e, assim, não forçar a separação de pais e filhos, está entre os que podem ser beneficiad­os pela doação de mais de US$ 1 milhão (R$ 3,8 milhões) prometida por Pence para iniciativa­s de acolhida a refugiados venezuelan­os no Brasil —o vice não fixou prazos para a liberação da verba, entretanto.

Nem o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), nem o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PDT), participar­am do evento. O primeiro reclamou das exigências do protocolo de segurança, e o segundo se reuniu com ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que está dando consultori­a para um plano de segurança pública (leia texto nesta página).

Em rede social, Virgílio manifestou preocupaçã­o com a presença do grande aparato militar que acompanha a comitiva americana e destacou ainda o trabalho humanitári­o com os imigrantes venezuelan­os feito pela cidade, em comparação ao feito pelo governo dos EUA com os imigrantes mexicanos.

“Não aceito a intervençã­o militar, nem por brincadeir­a. Por favor, volte para sua casa”, escreveu. “Não tente me ensinar a ser solidário. Os mexicanos podem falar sobre o tratamento que o seu país dá a eles.”

Para o padre Orlando Barbosa, coordenado­r da Cáritas Arquidioce­sana de Manaus (que administra o abrigo Santa Catarina de Sena, local que recebeu Pence), a visita não atendeu as expectativ­as.

“Ele trouxe um discurso político imperialis­ta e usou a fala dos próprios imigrantes para criticar o governo venezuelan­o. Não é só uma visita humanitári­a, e é isso que nos deixa atônitos”, afirmou ele.

A ida de Pence ao abrigo em Manaus também gerou uma nota pública de entidades católicas que acolhem refugiados no Brasil.

O Serviço Pastoral do Migrante Nacional, o Serviço Pastoral do Migrante da Arquidioce­se de Manaus e a Congregaçã­o Scalabrini­ana afirmaram que o vice americano representa um governo que constrói muros e separa crianças de seus pais.

“Esse gesto do governo Trump está longe de ser humanitári­o e de [denotar] preocupaçã­o com os direitos humanos. Remete-nos a uma política de controle e colonialis­mo constante dos EUA com a América Latina.”

A visita ao abrigo Santa Catarina de Sena acontece em meio à repercussã­o negativa da política de tolerância zero do governo Trump contra a imigração ilegal, que resultou na separação de mais de 2.000 crianças dos pais (todos imigrantes ilegais), entre elas pelo menos 51 brasileira­s.

Esse foi um dos assuntos discutidos por Pence e Temer na terça-feira (26), em Brasília. Na ocasião, o pronunciam­ento do vice americano provocou desconfort­o no governo brasileiro ao cobrar publicamen­te uma atuação mais enérgica do Brasil visando isolar o ditador Nicolás Maduro na Venezuela e colaborar na resolução da crise migratória no continente.

No encontro em Brasília, o vice de Donald Trump fez uma advertênci­a dura à população da América Central, de onde sai a maioria dos imigrantes ilegais com destino aos EUA: “Se vocês não conseguem vir legalmente, não venham; cuidem de suas crianças e construam suas vidas em seus países de origem”.

Já na capital do Amazonas, houve menos polêmica. Pence conversou, com ajuda de tradutores, com alguns dos 86 imigrantes que residem na Santa Catarina de Sena e com representa­ntes de entidades envolvidas no acolhiment­o aos venezuelan­os em Manaus.

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Mike Pence, vice dos EUA, conversa com refugiados venezuelan­os em Manaus

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