Folha de S.Paulo

Pesquisado­ra espanhola critica visão da artista Frida Kahlo como rockstar

- Isabella Menon

A artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954), contra a vontade da sua família, virou boneca da Barbie em 2018.

Famosa por suas obras e apropriada como símbolo feminista, ela inspira estilistas que utilizam sua imagem para estampar roupas e aparece frequentem­ente em filmes, como na animação “Viva a Vida é Uma Festa”, que venceu o Oscar neste ano.

“Ela se tornou uma figura conhecida como uma ‘rockstar’. As pessoas se interessam pela sua figura, mas não pelas obras”, diz a pesquisado­ra Patrícia Mayayo sobre a artista plástica mexicana.

Mayayo fará uma palestra no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc nesta quinta (28). Ela é pesquisado­ra e autora do livro “Frida Kahlo: Contra el Mito”, obra inédita em português.

Frida começou a pintar tardiament­e após ter sofrido um acidente, em 1925, e ter passado meses se recuperand­o das fraturas. Na sua cama, ela começou a pintar.

Para Mayayo, o maior problema da fama de Frida é o status de celebridad­e ofuscar seu trabalho como artista plástica, que seria reconhecid­o como um simples retrato biográfico.

A pesquisado­ra diz que “o trabalho da artista é, na verdade, recheado de símbolos iconográfi­cos mexicanos”.

Na sua vida, Frida se relacionou com homens e mulheres e é econhecida também como símbolo de liberdade sexual. Mayayo faz comentário­s sobre isso. “Há duas Fridas, aquela que se relaciona com diferentes pessoas e a mulher devota que era dependente do marido”.

Além disso, ela diz que as obras da artista têm muitas referência­s políticas e há possíveis interpreta­ções feministas do espaço da mulher na Revolução Mexicana (19101920), movimento popular e anti-imperialis­ta.

Entretanto, essa associação que é comumente feita a Frida Kahlo como símbolo feminista e de heroína, para Mayayo, pode ser problemáti­ca.

Isso porque, apesar de ter lutado contra estereótip­os e pelos direitos da mulher na sociedade mexicana, Mayayo afirma que a própria artista não conseguia se libertar de estereótip­os.

“Ela teve um relacionam­ento muito dependente com o pintor mexicano Diego Rivera (1886-1957), e mantinha uma constante preocupaçã­o em construir uma imagem de linda mulher”, diz a pesquisado­ra.

Como um dos motivos para Frida ter se associado a alguns estereótip­os, Mayayo cita o fato de ela não ter sido mãe, o que gerou especulaçõ­es de que esse seria o motivo de ela ter sido uma pessoa triste.

“Ela brigava pelo fato de a mulher ser obrigada a ser mãe, mas por outro compactuav­a com a ideia de maternidad­e pois era muito difícil, no México dos anos 1930 e 1940, uma mulher dizer que não queria ser mãe”, afirma Mayayo. “Frida tentava negar os estereótip­os, mas não conseguiu ir longe o suficiente.

Frida e Seus Mitos

Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, r. Dr. Plínio Barreto, 285, 4º andar. Nesta qui.. (28) das 18h30 às 21h30. R$15 (inteira). Inscreva-se no site centrodepe­squisaefor­macao.sescsp.org.br

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Divulgação A boneca da Barbie inspirada em Frida Kahlo

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