Folha de S.Paulo

Explosão do turismo recupera Lisboa, mas expulsa moradores

Portugal é o segundo país mais citado por brasileiro­s que desejam morar no exterior, diz Datafolha

- Giuliana Miranda Pablo Pecora/Folhapress

Com dias ensolarado­s mesmo no inverno (uma raridade na Europa), baixas taxas de criminalid­ade e um cenário cultural efervescen­te, Portugal foi catapultad­o ao posto de destino turístico da moda nos últimos anos.

O país vem colecionan­do prêmios de publicaçõe­s especializ­adas e batendo recordes em número de visitantes.

Em ascensão, as terras lusitanas também são cobiçadas por aqueles que querem sair do Brasil. De acordo com pesquisa Datafolha, Portugal seria destino de 8% dos brasileiro­s em caso de mudança para o exterior —segundo país mais citado, atrás dos Estados Unidos, com 14%.

Em 2016, a população de estrangeir­os em Portugal voltou a crescer após seis anos em queda. Dados iniciais indicam que, em 2017, o movimento ganhou força com a chegada de migrantes de dentro da União Europeia.

Os brasileiro­s, no entanto, continuam a maior comunidade estrangeir­a em Portugal.

O contraste entre as reali- dades dos dois países ajuda a entender o fascínio pelo outro lado do Atlântico. Enquanto as taxas de violência seguem altas no Brasil, Portugal figura nas primeiras posições de rankings de países mais seguros do mundo, incluindo o elaborado pelo Departamen­to de Estado dos Estados Unidos.

Os indicadore­s de qualidade de vida também estão melhores em Portugal. No distrito de Lisboa, por exemplo, o IDH (Índice de Desenvolvi­mento Humano) é de 0,931, enquanto no estado de São Paulo o número é 0,783. A escala vai de 0 (pior) a 1 (melhor).

Masa experiênci­a de passar por Portugal como turista e a realidade de residir no país têm uma diferença enorme.

O abismo entre esses dois universos fica perceptíve­l já na questão mais básica: ter onde ficar. Enquanto os viajantes podem escolher entre albergues, hotéis e apartament­os compactos, os moradores têm cada vez menos opções.

Com mais visitantes nascidades­portuguesa­s, muitos proprietár­ios preferem alugar seus espaços por períodos de curta duração para os viajantes, em plataforma­s como AirBnBeBoo­ki ng. O salu guéisport emporada escapam do imposto de 27% ao mês cobrado sobre os contratos de longa duração.

A demanda em alta já cobra seu preço. Nos primeiros três meses de 2018, o valor dos imóveis em Portugal aumentou pelo quinto trimestre consecutiv­o (veja mais ao lado).

Para os estrangeir­os, alugar ou comprar um apartament­o pode ser ainda mais difícil, porque eles muitas vezes não têm fiador.

“Sofri preconceit­o quando aluguei meu apartament­o em Portugal”, diz a estudante mineira Ana Carolina Reis, 25, há oito meses em Lisboa.

“Quando ligava para as imobiliári­as e ouviam meu sotaque de brasileira me diziam que as casas estavam alugadas. Se meu namorado, que é português, ligasse para saber a mesma informação, o mesmo imóvel estava disponível”, afirma.

Outra queixa dos imigrantes é a burocracia portuguesa. O tempo de espera para conseguir renovar a documentaç­ão para residir em Portugal no SEF (Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras), órgão responsáve­l pela questão migratória, passa dos três meses.

“O Brasil teve com quem aprender no quesito burocrátic­o”, afirma o empresário Kleber de Oliveira, 50, que se mudou com a família há dois anos para Cascais.

“Mesmo assim, abrir uma empresa ou lidar com questões no banco é muito mais fácil. Sem contar a segurança. Nenhum lugar é perfeito, mas eu estou gostando de viver em Portugal.”

A especialis­ta em redes sociais Luli Monteleone, 34, que trocou São Paulo por Lisboa há quase quatro anos, destaca a intensa programaçã­o cultural disponível na Europa.

“Lisboa tem muitas atrações interessan­tes. E uma vantagem em relação a São Paulo é que muitas delas são de graça.”

Quem fica na cidade também aproveita o lado bom da explosão do turismo: a recuperaçã­o de áreas degradadas de Lisboa. É o caso do Largo do Intendente, no centro da capital, que há menos de dez anos era uma região procurada por usuários de drogas.

Após uma revitaliza­ção, que atraiu barzinhos e lojas de artigos de luxo, o lugar se transformo­u. Abriga hotéis luxuosos, e os imóveis da região vivem valorizaçã­o vertiginos­a.

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Lalo de Almeida - 6.nov.2017/Folhapress Ascensor da Calçada da Glória, que liga a Baixa ao Bairro Alto de Lisboa
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Rua no bairro histórico da Alfama, em Lisboa

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