Folha de S.Paulo

Venda das distribuid­oras da Eletrobras pode ser barrada

- Taís Hirata

A venda das distribuid­oras da Eletrobras, que já sofre com entraves políticos, poderá ter mais uma barreira após a decisão do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do STF (Supremo Tribunal Federal), que exige a autorizaçã­o do Legislativ­o para privatizaç­ões.

A venda das distribuid­oras está marcada para o dia 26 de julho.

“A decisão do STF deverá gerar uma batalha de liminares até a data do leilão. Essa situação cria dúvida aos investidor­es e pode atrapalhar a competitiv­idade do leilão, se ele ocorrer”, afirma Raphael Gomes, sócio do Demarest.

Com a forte resistênci­a política aos leilões, a expectativ­a é que haja uma movimentaç­ão de entidades sindicais e partidos para travar a venda.

Um dos certames, o da distribuid­ora de Alagoas, já está suspenso por liminar, no âmbito de um outro processo —cujo teor não tem vínculo com a ação da Lei das Estatais no STF.

A Eletrobras já avalia formas de rebater os questionam­entos. Uma das possibilid­ades estudadas é usar a Medida Provisória 579, publicada durante o governo Dilma Rousseff e convertida em lei em 2013.

A equipe avalia se o texto —um dos mais criticados pelo setor elétrico e pelo governo Michel Temer— daria cobertura à tese de que o Congresso já aprovou a venda. A lei trata sobre a licitação de concession­árias de geração, distribuiç­ão e transmissã­o de energia.

Ao todo, a Eletrobras tenta vender seis distribuid­oras, nos estados de Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Alagoas e Piauí.

Antes mesmo da decisão, o certame já sofria entraves. Um dos maiores problemas é a dívida bilionária das empresas, que a União tenta resolver com um projeto de lei cujo objetivo é transferir o passivo à conta de luz do consumidor.

O texto, que tramita na Câmara e sofre resistênci­a, é considerad­o essencial para atrair investidor­es e evitar outro cenário ainda mais grave: a liquidação das companhias, principalm­ente as do Norte do país —que, juntas, acumulam débitos de R$ 29,8 bilhões. A Amazonas Energia tem a situação mais grave, com R$ 20,37 bilhões.

A liquidação é considerad­a uma medida extrema, pois gera dúvidas sobre a continuida­de do serviço, a possibilid­ade de uma demissão em massa e uma enorme transferên­cia de passivos à Eletrobras, controlado­ra das empresas.

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