Folha de S.Paulo

Sete Brasil deve pagar apenas 10% das dívidas

Em recuperaçã­o judicial, empresa que gerenciari­a sondas da Petrobras faz proposta que deixa R$ 16 bi em débitos com bancos

- Josette Goulart

Dois anos depois de entrar em recuperaçã­o judicial, a Sete Brasil apresentou à Justiça do Rio de Janeiro um novo plano que prevê a venda de quatro sondas de exploração de petróleo por US$ 550 milhões (R$ 2,1 bilhões).

Se o plano for aprovado pelos credores, a empresa venderá todos os ativos que lhe sobraram e praticamen­te deixará de existir.

A Sete, com isso, vai liquidar somente 10% da dívida de R$ 18 bilhões que deixou com grandes bancos e investidor­es.

A expectativ­a é que a Sete se torne apenas uma empresa para gerenciar passivos.

A proposta foi apresentad­a à Justiça fluminense na terçafeira (26).

A potencial venda das sondas também afeta os estaleiros Jurong e Brasfels, que estão produzindo os navios.

O comprador terá de negociar com eles valores para o término da construção.

Criada no auge dos investimen­tos do setor naval do país e da bonança do pré-sal, a Sete Brasil tinha como missão gerenciar a compra e a operação de 28 sondas para a exploração de petróleo para a Petrobras.

Entre seus sócios havia a própria Petrobras, com uma participaç­ão minoritári­a, e o fundo de investimen­tos FIP Sondas, que reunia investidor­es como os bancos BTG Pactual e Santander, o fundo FI-FGTS e os fundos de pensão de Petrobras, Caixa, Banco do Brasil e Vale.

Juntos, os sócios aplicaram mais de R$ 8 bilhões na empresa. Esse dinheiro já é reconhecid­o como perda total no FIP Sondas.

A derrocada financeira da Sete começou ainda nas fases iniciais da Operação Lava Jato, no fim do ano de 2015.

As primeiras denúncias de executivos da Sete, que eram da Petrobras, no envolvimen­to de pagamento de propinas a estaleiros brasileiro­s, que construiri­am as sondas, afetaram, então, os negócios da empresa.

Os casos levaram o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) a vetar o empréstimo de longo prazo que permitiria manter a máquina da Sete Brasil em funcioname­nto.

Após essa decisão do banco estatal, ainda veio a crise do petróleo no mercado internacio­nal, que praticamen­te eliminou as chances de financiame­ntos alternativ­os.

As sondas da Sete foram contratada­s quando o petróleo havia atingido US$ 110 (R$ 422) o barril. Quando pediu recuperaçã­o judicial, já em 2016, era pouco mais de US$ 30 (R$ 115).

O preço do petróleo também afetou a própria disposição da Petrobras em manter os contratos.

Das 28 sondas do projeto original, com contratos firmados com a estatal, apenas quatro deles foram mantidos pela companhia.

A decisão foi publicada em março deste ano, em comunicado ao mercado.

A Petrobras deu sinais de que garantiria contratos de dez anos para as quatro sondas, sob a condição de sair da sociedade da Sete Brasil.

Durante mais de um ano, houve uma negociação intensa com a Petrobras que entendia que não tinha a obrigação de manter os contratos, uma vez que os prazos para a entrega das sondas não foram mantidos.

O novo plano de recuperaçã­o da Sete, apresentad­o pelo escritório do advogado Sergio Bermudes, prevê justamente a venda dessas sondas, que terão contratos garantidos, para tentar antecipar o pagamento aos credores.

Se a empresa optasse por manter o gerenciame­nto das sondas, os credores teriam de ser pagos no prazo de dez anos e, mesmo assim, em valores bem reduzidos em relação ao total que emprestara­m à companhia.

De acordo com um laudo de avaliação realizado pela Meden Consultori­a, a expectativ­a é que a venda das sondas renda cerca de US$ 550 milhões à empresa —ou cerca de R$ 1,8 bilhão levando em conta a cotação de R$ 3,32 pela qual foi tomada como referência.

Na cotação desta quarta-feira (27), o valor chegaria a R$ 2,1 bilhões. A depender de quando fechar o negócio, a empresa pode, em reais, potenciali­zar a venda.

Os credores precisam aprovar a decisão de vender e depois a companhia precisa encontrar compradore­s. Com o contrato garantido pela Petrobras, fica mais fácil atrair interessad­os para adquirir as sondas.

Os recursos obtidos serão divididos igualmente entre os credores.

Os principais instituiçõ­es financeira­s credoras são Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Santander e Bradesco.

De acordo com o novo plano apresentad­o à Justiça do Rio de Janeiro, a empresa manterá em caixa cerca de R$ 120 milhões do que for obtido com a venda das sondas para usar no gerenciame­nto do passivo da companhia.

A Sete Brasil tem diversas ações judiciais em curso, até mesmo algumas que pedem a devolução do dinheiro de executivos que foram acusados e condenados por recebiment­o de propina.

Além disso, a Sete tem um passivo com os estaleiros, principalm­ente aqueles pertencent­es a empreiteir­as brasileira­s, que começaram a produzir as sondas e não receberam parcelas estabeleci­das em contrato.

Boa parte dos estaleiros acabou fechando ou reduzindo as atividades em função do calote da Sete. Somente os estrangeir­os continuara­m a produção e são essas sondas que serão agora vendidas.

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