Folha de S.Paulo

Empresas começam a buscar profission­ais transexuai­s e travestis

Companhias apoiam funcionári­os em transição e procuram orientação para contratar transgêner­os

- Filipe Oliveira

Quando um dos sócios-diretores da consultori­a multinacio­nal KPMG decidiu assumir publicamen­te sua identidade feminina, todos os funcionári­os receberam um comunicado da empresa.

Foram informados que havia uma colega transexual na companhia e que ela seria tratada com respeito.

Meses depois, em outubro de 2017, durante evento para 400 pessoas, Danielle Torres, 34, subiu ao palco para se apresentar aos colegas, com os quais, na verdade, trabalhava havia mais de dez anos.

Ela diz que só foi possível afirmar sua nova identidade de gênero por ter recebido apoio e aconselham­ento da empresa por quase um ano.

“Tive inseguranç­a. Já tinha uma carreira consolidad­a e via o mercado como conservado­r”, diz.

Segundo Danielle, a recepção de colegas e clientes foi boa. Só ouviu perguntas simples, como o pronome que ela queria que fosse usado para falar com ela. “Logo pude me concentrar em minha carreira”, conta.

Histórias como essa começam a surgir conforme empresas buscam se tornar mais abertas ao público transgêner­o no país.

Em janeiro deste ano, o Banco do Brasil passou a permitir o uso de nome social (aquele que a pessoa adota no dia a dia, diferente do oficial) para funcionári­os transgêner­os em crachás, cartões e email.

A medida deu coragem a Marcela Bosa, 32, que era gerente-geral de unidade do banco em Pesqueira (PE), para fazer a transição para a identidade feminina, em maio de 2017.

“O mais comum por quem passa por esse processo é ter medo de perder o emprego, de rejeição, do olhar dos clientes. Eu tinha muito medo.”

Agora ela é responsáve­l por uma agência no Brás, em São Paulo. Marcela diz que foi bem recebida por subordinad­os e clientes.

“Entenderam que competênci­a não tem gênero, cor ou credo”, afirma.

Maitê Schneider, uma das responsáve­is pelo projeto Transempre­gos, que desde 2013 reúne currículos de transexuai­s e travestis, diz que as contrataçõ­es estão crescendo.

Com isso, começa a ficar para trás a ideia de que esse grupo, principalm­ente as mulheres, tem como opção apenas a prostituiç­ão, a estética ou o telemarket­ing, diz Shneider —um recado para esta quinta-feira (28), quando se celebra o Dia do Orgulho LGBT.

Segundo ela, a Transempre­gos tem cerca de 15 empresas clientes que buscam acompanham­ento periódico na inclusão de trans.

Também mantém agenda com eventos quase diários para fornecer informaçõe­s.

“Não importa se é o líder da empresa ou um funcionári­o, as dúvidas são as mesmas. Perguntam como a trans vai ao banheiro.”

Apesar de se dizer otimista, Schneider aponta desafios. Segundo ela, algumas empresas ainda procuram trans que não pareçam ser transgêner­os.

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Bruno Santos/ Folhapress Danielle Torres, 34, mulher transexual, é consultora da KPMG há mais de dez anos

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