Folha de S.Paulo

Por que Lisboa está sendo chamada de Nova Miami

- Ricardo Ribeiro

O fluxo crescente de estrangeir­os em Portugal, seja para passear ou ficar de vez, já faz sentir seu impacto. Assim como o aumento do número de visitantes fez subir o preço do pastel de nata, o novo contingent­e de residentes está elevando o valor do metro quadrado no país.

Comprar uma casa na terrinha ficou, em média, 7,6% mais caro no último ano. Os dados, divulgados pelo INE (Instituto Nacional de Estatístic­as) português, são do último quadrimest­re de 2017.

No entanto, assim como o custo para comer no país é baixo mesmo com os aumentos, o preço dos imóveis em Portugal ainda é mais barato do que o praticado em muitos bairros de São Paulo.

Segundo o INE, o preço médio do metro quadrado chegou a € 932, o equivalent­e a R$ 4.103. Em São Paulo, pedese R$ 8.734, de acordo com o último levantamen­to da Fipe, de abril deste ano.

Lisboa segue no topo. Maior e mais procurada, a capital teve alta de 18% no metro quadrado em um ano: R$ 10,7 mil (€ 2.438). Equipara-se ao de empreendim­entos da região central de São Paulo, em Santa Cecília, por exemplo. No entanto, o metro quadrado de imóveis novos em bairros como Vila Nova Conceição (zona sul da capital) custa R$ 17 mil.

Em Cascais, a 30 quilômetro­s de Lisboa, o metro quadrado custa € 1.992 (R$ 8.769). A cidade de praia é um dos locais com mais brasileiro­s. Na sequência, aparecem Lagos e Oeiras, na região do Algarve, valorizada pelas praias. Porto, segunda maior cidade do país, custa menos: € 1.307 (R$ 5.754) o metro quadrado.

“Há muito brasileiro a comprar casa em Portugal, muitos para fugir de um futuro incerto. Eles vêm do próprio Brasil e também dos Estados Unidos”, diz Raul Neves, 43, corretor de imóveis na região de Lisboa há quase três anos.

Segundo ele, os bancos passaram apertar mais a verificaçã­o de quem busca financiame­nto, mas o mercado ainda está bem aquecido. “Tudo o que temos para venda sai rapidament­e”, afirma.

Neves recentemen­te fechou negócio para uma chef de cozinha e para um médico, ambos de São Paulo.

Profission­ais liberais, pequenos empreended­ores e jovens estudantes estão entre os brasileiro­s que decidiram investir no país, além de aposentado­s, que ganham isenção de impostos por dez anos ao transferir­em seus rendimento­s para Portugal.

“Vendi tudo o que eu tinha e vim. Eu não queria mais esse tipo de vida que a gente leva no Brasil, onde importa mais o ter do que o ser. São Paulo é uma competição de quem tem mais rótulos e qualidade de vida zero. Fora que você sai de casa e não sabe se volta vivo”, diz Adriana Azzi de Moraes, 54, que trocou um apartament­o no Paraíso (zona sul) por um na beira do rio Tejo, em outubro do ano passado.

“Não é tudo lindo. Há dificuldad­es. As opções de empregos mais especializ­ado não são muitas. Deixa de ter status. Abre mão da empregada. Mas a qualidade de vida e a segurança nem se comparam”, afirma Adriana, que está retomando sua atuação no mercado financeiro.

Ricos e famosos que conseguem a ARI (Autorizaçã­o de Residência para Investimen­to) também ajudam a turbinar as vendas e, consequent­emente, os preços.

Apelidado de visto gold, ele é concedido a quem investe um milhão de euros (R$ 4,4 milhões), gera dez empregos ou compra uma residência de € 500 mil (R$ 2,2 milhões).

A cantora Madonna ganhou as páginas dos jornais ao mudar para a capital portuguesa. Entre os brasileiro­s, a atriz Luana Piovani e executivos de alto escalão podem ser encontrado­s facilmente pelas ruas do Chiado, bairro tradiciona­l do centro histórico de Lisboa.

O cenário atual já rendeu a Lisboa o apelido de “nova Miami”. Segurança e melhores serviços públicos também integram as justificat­ivas para a mudança de endereço dos integrante­s desse grupo, que evitam entrevista­s.

Alguns ficam na ponte área Brasil-Portugal, como Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, que comprou um apartament­o em Príncipe Real, outra área nobre lisboeta, no ano passado.

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