Folha de S.Paulo

Multidão lota ruas de Paris em festa do bi

A liberdade é azul. A população tomou a Champs-Élysées e parece não haver fim de torcedores saindo para as ruas, cantando e bebendo, relata o enviado Ivan Finotti.

- Ivan Finotti O jornalista viaja a convite da Air France e da Atout France

A liberdade é azul. São 19h em Paris, mas o sol só vai se pôr às 22h. A França acaba de conquistar seu bicampeona­to, 20 anos após vencer o Brasil em 1998, e a população toma a Champs-Élysées, apesar dos esforços de não haver aglomeraçõ­es na cidade.

“Allez, les bleus” (literalmen- te “vamos, os azuis”) é palavra de ordem, concorrend­o com as buzinas das ruas adjacentes. Uma garota para sua motoca. Um torcedor tenta abrir seu capacete à força. Ninguém disse que seria civilizado. Às 19h, a temperatur­a ainda é a mesma das 17h, quando o jogo começou aqui: 31°C. Às 13h, o metrô foi fechado e, às 16h, toda a parte ao redor do rio Sena estava interrompi­da para automóveis.

Para andar em Paris neste domingo (15), só a pé. Meia hora depois do jogo, a rua de Rivoli, que liga o Louvre à Champs-Élysées, está mais cheia do que qualquer estádio.

Milhares de pessoas caminham ao lado do Jardim des Tulleries em direção a uma das avenidas mais famosas do mundo, cantando, gritando, fumando e bebendo. “Eu sabia que a gente ia ganhar, só não sabia que seria tão elegante”, diz o empresário Louis Roux, se referindo aos gols finamente marcados contra a Croácia.

A igualdade é branca. Desde a madrugada, a molecada está lotando os trens em direção a Paris. São 11h de domingo, e a estação de Chartres es- tá abarrotada de grupos de garotos e garotas, alguns já visivelmen­te perturbado­s.

Até chegar à capital, são quatro estações e uma hora de viagem. O trem vai ficando cada vez mais apertado, lotado, insuportáv­el e azul.

Foram montadas 230 fanfests na França, locais guarnecido­s com telões prontos para receber torcedores. Cerca de 110 mil policiais fizeram a segurança, em um país que já foi atacado pelo terrorismo.

São 21h, a temperatur­a já caiu, são “apenas” 28°C, e parece não haver fim de torcedores saindo das casas ou dos bares para marchar nas ruas.

Eles levantam as mãos batendo as palmas no alto, bradando “bleus”, “bleus”, cada vez mais rápido, batendo as palmas, cada vez mais rápido, gritando “bleus”, “bleus”, até que tudo vira um espasmo.

É raro ver qualquer árabe ou mulher de burca comemorand­o aqui. Nos Champs-Élysées, a maioria é de franceses de pele bem branca ou bem negra. “É verdade… mas não somos como os croatas, que brigam com vizinhos. Aqui acolhemos todos”, afirma a estudante Stephanie Lucet.

A fraternida­de é vermelha. A maior fanfest, ou a mais almejada, é a que está em frente à Torre Eiffel. São quatro telões, um deles de cem metros quadrados. Mas a segurança esperava que apenas 90 mil franceses chegassem aqui.

Isso aconteceu às 14h, e quando faltava meia hora para o início do jogo (17h em Paris), o Campo de Marte, que acolhe a torre, já estava cheio havia muito tempo. A turba se acumulou: milhares de parisiense­s corriam ao local, com bandeiras, cantoria e crianças.

Minutos depois, a polícia rechaçou com gás lacrimogên­eo. Centenas de torcedores, muitos turistas, correram assustados, e choraram devido ao tóxico. Olhos vermelhos! Os mais jovens revidaram com paus e pedras recolhidos nas ruas ao redor e receberam de volta mais gás. “Polícia de merda”, reclama o garoto Jean, com camiseta nas narinas. “Queremos ver o jogo como todos os franceses!”.

A polícia, por sua vez, tomou mais paus e pedras nos capacetes. Ao que, o povo, recebeu de volta lágrimas.

Por volta das 23h, uma nova turba quebrou uma vitrine na Champs-Élysées. Ódio? Loucura? Beberrões? Sim. Queriam vinho e saquearam o local.

A polícia francesa revidou novamente.

Para quem não está acostumado a uma revolução francesa, foi um dia histórico.

 ?? Charles Platiau/Reuters ?? Torcedores franceses comemoram o título na avenida Champs-Élysées, em Paris
Charles Platiau/Reuters Torcedores franceses comemoram o título na avenida Champs-Élysées, em Paris

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil