Folha de S.Paulo

Tensão elétrica

Sobre obstáculos à privatizaç­ão no setor de energia.

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A despeito dos numerosos questionam­entos judiciais e do atraso na aprovação de um projeto de lei no Senado que daria mais segurança aos possíveis compradore­s, o governo pretende levar a cabo o leilão de privatizaç­ão de seis distribuid­oras de energia da Eletrobras, marcado para 26 de julho.

A venda das unidades em Alagoas, Piauí, Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima é a primeira etapa do plano de saneamento da empresa estatal, que ao final poderá resultar em sua privatizaç­ão.

As distribuid­oras estão endividada­s e acumularam prejuízo de R$ 4,5 bilhões apenas no ano passado. Também estão entre as piores nos indicadore­s de qualidade.

Pelo plano, a Eletrobras assumiria um pedaço das dívidas, enquanto os compradore­s teriam compromiss­os de investimen­tos pesados nos próximos anos. Sem a venda, por outro lado, as empresas poderiam ser liquidadas.

A guerra judicial permanece, contudo, com liminares contrárias ao leilão. O ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, suspendeu o processo de venda da alagoana Ceal, enquanto a Justiça Federal do Rio de Janeiro vetou o leilão sem autorizaçã­o legislativ­a.

Por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), o governo espera der- rubar todas as decisões provisória­s a tempo do leilão.

Que assim seja. Desde que o anúncio do plano de saneamento da Eletrobras foi anunciado, eram previsívei­s os obstáculos políticos, corporativ­os e judiciais. O menor deles, na verdade, é a venda das distribuid­oras —e, em breve, das participaç­ões minoritári­as em ativos de geração, com o objetivo de reduzir a pesada dívida da estatal.

A última e maior batalha, contudo, ficará para o próximo governo: a complexa modelagem da venda das grandes subsidiári­as de geração de energia —Chesf, Furnas e Eletrosul. Todas são cobiçadas pelos políticos locais, em razão dos cargos e investimen­tos bilionário­s. Já Eletronort­e e Itaipu permanecer­ão estatais.

Ao final, a privatizaç­ão ocorreria num modelo de pulverizaç­ão das ações no mercado. Em troca de um aumento de capital, o governo federal abriria mão do controle, mas retendo uma participaç­ão com direitos especiais.

Se bem feita, cercada de todos os cuidados para assegurar os investimen­tos em benefício da coletivida­de, a privatizaç­ão tende a ser positiva. O escrutínio jurídico e parlamenta­r, natural e necessário, deve se pautar pela busca de soluções, e não por motivações ideológica­s ou interesses particular­es.

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