Potência
França ganha o bi mundial, consagra geração jovem e se firma entre as grandes seleções
Na final de Copa com mais gols desde 1966, a França derrotou a Croácia por 4 a 2 e se consolidou entre as grandes forças do futebol.
Bicampeão, o país igualou-se a Argentina e Uruguai. Com 12 conquistas, a Europa ampliou a vantagem sobre a América do Sul, que soma 9 taças.
Foi a vitória de uma equipe jovem —com média de 26 anos, era a segunda mais nova da Copa.
Mbappé, Griezmann e Pogba foram os destaques da seleção campeã. A Fifa deu ao croata Luka Modric o prêmio de melhor jogador da competição.
Maior novidade do Mundial, o VAR (árbitro de vídeo) teve protagonismo na final, ajudando a marcar um pênalti para a França. O jogo teve ainda invasão de campo do grupo punk Pussy Riot, em protesto contra o presidente russo, Vladimir Putin.
Pogba, 25, faz lançamento longo para Mbappé, 19, que arranca em velocidade e cruza para Griezmann, 27. O atacante ajeita para o armador que iniciou a jogada e chega a tempo de finalizar.
Foi o lance do terceiro gol da vitória que garantiu o título mundial da França neste domingo (15), em Moscou. Em questão de segundos, uma jogada reuniu o principal trio da seleção novamente campeã, 20 anos após a conquista de 1998.
No placar de 4 a 2 sobre a Croácia, Griezmann fez um gol de pênalti, cruzou a bola para outro e foi eleito o melhor da decisão. Salvo alguma surpresa, como uma lesão, por exemplo, os três poderão repetir em 2022, no Qatar, o que fizeram na Rússia.
À exceção de Giroud e Matuidi, ambos com 31, a França entrou em campo para disputar a final com equipe que pode ser a mesma da estreia no próximo Mundial. A França terminou como campeã com a segunda equipe mais jovem do torneio, com média de 26 anos. Apesar disso, venceu com maturidade. Tem jogadores que estão nos principais clubes do planeta.
Griezmann só não saiu do Atlético de Madri (ESP) porque não quis. Pogba joga no Manchester United (ING). Mbappé é companheiro de Neymar no PSG (FRA). Ainda há Umtiti, 24, e Varane, 25, rivais na Espanha. Jogam por Barcelona e Real Madrid, respectivamente. Kanté, 27, é o pulmão do Chelsea (ING).
A equipe jogou com o pragmatismo desejado pelo seu treinador, o ex-volante campeão do mundo Didier Deschamps. Apesar de ter um time recheado de talentos ofensivos e de toque de bola, atuou em todas as partidas do matamata, mesmo que, por alguns minutos, recuada para explorar os lançamentos de Pogba para Mbappé ou Griezmann.
Foi assim que Kylian Mbappé, escolhido como melhor jogador jovem da Copa, criou confusão no sistema de marcação da Croácia no segundo tempo e a França garantiu o título, numa final rara para os padrões recentes. As três decisões anteriores —2006, 2010 e 2014— precisaram de prorrogação para definir o campeão.
Da mesma forma que o menino, filho de pai camaronês, que cresceu idolatrando Zidane mesmo sem tê-lo visto ao vivo levar à seleção ao título de 1998, aniquilou a defesa da Argentina nas oitavas de final e mandou Messi para casa.
Deschamps convenceu Kylian que valia a pena atuar aberto por uma das pontas e também fez Antoine Griezmann, um dos mais valorizados atacantes do futebol mundial, passar boa parte da final atuando como meia. É um mérito do treinador, criticado por boa parte da imprensa do país antes do torneio, ter convencido seus principais jogadores, astros do futebol europeu, a se sacrificarem pela causa.
A França teve maturidade até para deixar o público de lado. Sua torcida foi a menor em todas as partidas da Copa. Na final, foi superada de longe pelos croatas, que aplaudiram seus jogadores de pé após a derrota, e eles que, ao deixa- rem o estádio, carregavam no peito a medalha de vice-campeão, demonstrando orgulho.
Com razão. Participante improvável da final, a Croácia teve o melhor jogador do torneio: Luka Modric, escolhido pelo grupo de estudos da Fifa. Mostrou uma defesa de claras limitações técnicas, mas que se superou, e jogadores que brilharam em seus papéis de coadjuvantes. Principalmente Rakitic, Rebic e Perisic.
Houve um momento da decisão em que não era apenas sonho deles vencer. Era plausível a Croácia ganhar. A equipe foi melhor que a França nos primeiros 45 minutos e seu meio-campo controlou o jogo.
Os franceses tiveram sorte, o que é uma regra dos campeões. Uma equipe com azar não ganha nada no futebol. Mesmo pior que o rival, anotou duas vezes e terminou o primeiro tempo vencendo. Contou com uma cadeia de fatos inéditos em finais de Copa do Mundo que atuaram a seu favor. Mandzukic fez o primeiro gol contra da história das decisões. O segundo saiu quando a bola bateu na mão de Perisic na área, pênalti apenas assinalado pelo argentino Néstor Pitana após consulta ao VAR.
A Croácia poderia tentar uma reação na etapa final, até o momento que Mbappé encontrou espaço para jogar. Nem fez diferença a falha escandalosa do goleiro Lloris (com 31, outro que pode estar no time no Qatar), que deu de presente a bola para Mandzukic descontar e deixar o placar com os 4 a 2 definitivos, na final com mais gols desde 1966.
Foi uma Copa em que Mbappé mereceu reverência de Pelé. Em fisioterapia por causa de dores no quadril, ele não esteve na Copa pela primeira vez desde 1954. “Se Kylian continuar a igualar meus recordes assim, vou ter que tirar a poeira das minhas chuteiras novamente”, disse o brasileiro, em sua conta no Twitter.
Aos 19 anos, o francês é o segundo mais jovem a fazer gol na final do Mundial. Perde só para Pelé, que tinha 17 quando fez dois na final de 1958.
É o maior elogio possível para um novato em Copas que foi um dos principais nomes da seleção campeã mundial.