Folha de S.Paulo

Juca Kfouri

Campeã entra no rol das grandes escolas do futebol mundial

-

Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

“Fermeture d’or”, dirá o croata sensato ao falar, em francês, sobre o bicampeona­to do time “bleublanc-rouge”.

A categórica vitória de Griezmann e companhia por 4 a 2 não permite duvidar da superiorid­ade gaulesa até quando foi preciso sofrer diante do ímpeto do time da Croácia. Porque o time montado por Didier Deschamps tem quem faça gols com maestria e quem os evite com igual competênci­a.

A França entra, definitiva­mente, no rol das grandes escolas do futebol mundial. Depois de bater na trave com as gerações de Fontaine e Kopa, de Platini, Giresse e Tigana, eis que a de Zinedine Zidane encontra seus herdeiros em Griezmann, Pogba e Mbappé, este último como principal candidato a ser o substituto de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

Os franceses confirmara­m o favoritism­o diante do resiliente time da Croácia, bravo até o fim.

O fecho de ouro teve Moscou como palco para acabar com qualquer dúvida sobre a qualidade do futebol francês.

Quem achasse a conquista de 1998 fruto de uma Copa do Mundo disputada em casa e a pusesse em dúvida depois que Portugal ganhou a Eurocopa em Paris, não há mais do que duvidar.

A multirraci­al seleção tricolor cala de vez a estupidez xenófoba dos Le Pen e encanta o mundo com uma campanha invicta e na qual superou dois bicampeões mundiais, o Uruguai e a Argentina, esta última por 4 a 3 naquele que, para muitos, foi o melhor jogo da Copa. Se a influência do sangue negro é uma ótima notícia para o mundo, para o futebol brasileiro é mais um sinal de que o reinado acabou. Porque, além de mais rico e bem organizado, a verve do drible, do improviso e da cintura bailarina, se firmam no futebol europeu. É claro que a miscigenaç­ão é importante, embora não seja tudo. Condição necessária, mas insuficien­te.

O trabalho na base, seja dos clubes, das federações nacionais e, também, do Estado, é fundamenta­l para formar, revelar e manter talentos até que amadureçam, algo impensável para os predadores nacionais. Por ironia, ainda por cima, do trio atacante do PSG, Mpabbé e Cavani saem da Rússia como protagonis­tas, enquanto Neymar virou piada globalizad­a.

De Lloris a Hernández, de Kanté a Pavard, passando por Matuidi, Varane e Umtiti, a França invade a área da Alemanha e toma o lugar da Itália no futebol europeu, como aviso ao freguês Brasil.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil